São Paulo, quinta-feira, 22 de setembro de 1994
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O grande trunfo

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – A partir de hoje, faltam apenas oito dias para o encerramento da campanha eleitoral –depois do dia 30 não existe mais horário gratuito e os comícios são proibidos. Justamente nesse curtíssimo espaço de tempo, Fernando Henrique Cardoso ostenta seu maior trunfo.
É como se fosse milimetrado para o encaixe entre o plano econômico e o cronograma do projeto presidencial. A inflação deste mês deve girar em torno de 1%. Os jornais de ontem estamparam que a Fipe registrou seu menor índice desde o Plano Cruzado. A diferença é que, naquela época, os preços estavam congelados por lei.
A tendência é que esse índice, ao solidificar o prestígio do real, ajude ainda mais a candidatura de Fernando Henrique. Para neutralizar um possível efeito do caso Maciel, a cúpula da campanha do PSDB vai expor ao máximo a inflação de setembro.
O comitê de campanha, porém, tenta evitar o clima de "já ganhou" –o fantasma de Jânio Quadros ronda por ali. A ordem é criar fatos novos todos os dias. Esta semana foi a adesão de artistas como Gilberto Gil e Caetano Veloso –na próxima, o candidato vai visitar bispos. Para cada dia, programou-se um evento.
A cúpula do PT, porém, não jogou a toalha. Está convencida (e com razão) de que, nesses oito dias, ainda há tempo de, pelo menos, empatar o jogo. Nessa reta final, os eleitores, em especial os indecisos, tendem a ficar mais sensíveis. Se no PSDB mira-se no caso Jânio, no PT relembram-se os cadáveres de Volta Redonda, fator decisivo para a virada de Luiza Erundina na disputa à Prefeitura de São Paulo em 1988.
O PT aposta no efeito do caso Maciel (algo a ser conferido nas pesquisas de opinião do fim-de-semana) e numa nova denúncia. Por todos os lados, seus militantes cavam desesperadamente à procura de documentos. Imaginam que, contra o real, apenas uma denúncia de ladroagem.
Talvez não seja uma boa aposta, mas, a essa altura, é a única disponível.

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