São Paulo, domingo, 25 de setembro de 1994
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Onde foram parar os conservadores?

THOMAS E. SKIDMORE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Por que não há presidenciáveis conservadores com chances reais este ano? Por que Amin está tão longe atrás na corrida presidencial? Onde está Maluf? Onde está aquela voz ponderada do conservadorismo pela qual Minas já foi tão famosa? Por que, pela primeira vez desde 1945, o Brasil não tem um rosto conquistador de votos representando a direita?
Será porque não importa aos conservadores quem será o novo presidente? Afinal de contas, os conservadores não controlam sempre, na realidade, as instituições-chaves da sociedade? Por exemplo, a polícia, o Judiciário e o setor militar?
Ou será porque as linhas de poder no governo brasileiro estão tão emaranhadas que nenhuma política que ameace os interesses conservadores teria condições de ser implementada? O Congresso, por exemplo, parece ser incapaz de realizar uma ação contínua e sustentada em qualquer direção. Ademais, o governo federal foi privado de tanta receita que tem poucos recursos com que ameaçar a propriedade ou os privilégios.
Ou será que a resposta pode ser encontrada na estrutura econômica brasileira? Apesar do índice de fertilidade decrescente, o Brasil ainda possui uma enorme reserva de mão-de-obra excedente. Este "exército de desempregados" funciona como depressor permanente dos salários e da militância sindical. Esta feroz concorrência por empregos vai manter os trabalhadores "em seu devido lugar", como os conservadores bem sabem.
Ou será porque há tão pouca coisa em jogo nesta eleição? O que, por exemplo, o empresariado tem a temer? Com as estatais sendo privatizadas, o Estado brasileiro parece menos ameaçador.
Talvez a explicação tenha menos a ver com economia e mais com Fernando Henrique Cardoso. Em 1989, os conservadores se sentiram mortalmente ameaçados por Lula. Eles correram em peso em direção a Collor. Hoje os conservadores enfrentam um Lula muito mais fraco. Além disso, eles contam com um candidato muito mais respeitável para opor-se ao PT.
Fernando Henrique fortaleceu sua posição eleitoral selando uma aliança formal com o PFL, e assim com a mais tradicional oligarquia nordestina. Ele afirma não haver prometido nada em troca. Será que alguém imagina que Antonio Carlos Magalhães sairia de mãos vazias de tais negociações? Se Fernando Henrique vencer com os votos do nordeste, ele pode estar certo de que o PFL vai exigir o troco.
Em suma, seria tolice concluir que os interesses conservadores no Brasil desistiram da luta política. Aqueles que desfrutam o ápice da distribuição de renda mais desigual do mundo não estão dispostos a sofrer perdas de braços cruzados. Desse ponto de vista, é uma pena que não haja nenhum candidato conservador em posição de liderança para contestar a retórica reformista de Fernando Henrique e as receitas radicais de Lula.

THOMAS ELLIOT SKIDMORE, 62, doutor pela Universidade de Harvard (EUA), brasilianista desde 1961, é autor dos livros "Brasil: de Getúlio a Castello" e "Brasil: de Castello a Tancredo".

Tradução de Clara Allain

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