São Paulo, domingo, 25 de setembro de 1994
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O grande funeral

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A eleição presidencial deste ano sepultará algumas lideranças. Isso é ruim e é bom ao mesmo tempo.
Ruim porque evidencia, uma vez mais, a falência de nossos partidos. Bom porque abre espaço para um recomeço.
A julgar pelos resultados das pesquisas, o eleitor está organizando para 3 de outubro o funeral da geração de políticos sobreviventes da fase militar.
São lideranças que têm em comum o convívio com a farda. Sobreviveram porque resistiram ao quepe, se compuseram, ou foram criados por ele.
A maior evidência de que estamos diante de um cortejo fúnebre é o sucesso de Enéas, o exótico candidato do Prona. Enéas pode lançar a última pá de terra sobre a lápide de certos "líderes".
Cardiologista, professor de eletrocardiografia, ex-sargento do Exército, Enéas é um bebê político. Nasceu na eleição de 89.
Naquela ocasião, mal dispunha de tempo para falar. No horário eleitoral gratuito, como uma criança que ensaia as primeiras palavras, dizia apenas: "Meu nome é Enéas".
Hoje, com mais tempo na televisão, despeja sobre o eleitor um discurso fascista. E, pior, faz sucesso.
Enéas rivaliza nas pesquisas com Leonel Brizola e Orestes Quércia, duas das mais felpudas raposas da política brasileira.
Apoiado por Paulo Maluf, Esperidião Amin já o perdeu de vista. Amin é, diga-se, a grande decepção do pleito.
Os entendidos não descartam a hipótese de Enéas vir a ser o terceiro mais votado da temporada eleitoral. Ficaria atrás apenas de Fernando Henrique e de Lula.
Enéas deixa de ser um "cacareco", para transformar-se em algo mais sólido, um convite à reflexão. É a prova mais evidente da falência dos grandes partidos, o PMDB, o PDT e o PPR à frente.
Não fosse pelo faro de seus integrantes, que sentiram com razoável antecedência o perfume de poder que exalava de Fernando Henrique, o PFL estaria na mesma situação.
Ao sufocar as universidades, os militares fecharam a principal usina de formação política do país. Ao colocarem a vaidade acima das evidências, os líderes tradicionais impediram o surgimento de alternativas na curta fase de redemocratização.
O funeral de 3 de outubro abre caminho para o surgimento de uma nova geração política. O eleitor brasileiro merece opções melhores do que Enéas.

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