São Paulo, domingo, 25 de setembro de 1994
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Preços agrícolas já começam a subir

DA "AGÊNCIA DINHEIRO VIVO"

Os aumentos dos preços agrícolas começaram a pressionar as taxas de inflação.
O reflexo do que está acontecendo agora começará a ser sentido já no próximo mês de outubro, quando as altas de preços ao produtor e no atacado chegarão ao bolso do consumidor.
Nos meses de julho e agosto, o mercado agrícola manteve-se em um quadro de estabilidade.
Isto porque o segmento de varejo (venda ao consumidor final) podia absorver eventuais aumentos, por ter elevado excessivamente suas margens de lucro antes da entrada em vigor da nova moeda, o real.
O período de entressafra este ano tinha tudo para ser relativamente tranquilo.
Os motivos para esta tranquilidade eram vários: 1) safra recorde de grãos; 2) acordo informal dos agentes econômicos com o governo para segurar os preços pelo menos até a realização das eleições gerais; 3) finalmente, a equipe econômica apostava que o aumento das margens de lucro daria fôlego à estabilidade no setor.
Mas a seca prolongada na região Centro-Sul, que vai atrasar a entrada da próxima safra, veio mudar este quadro de tranquilidade.
A "Agência Dinheiro Vivo" constatou, no levantamento que faz nas 87 principais praças de comercialização, vários aumentos em produtos agrícolas com forte peso na composição dos índices de inflação.
As principais pressões detectadas pelo levantamento foram: 1) a arroba do boi gordo já está sendo negociada a até R$ 26, o que equivale a US$ 29,30 à vista e, se não houver nenhum fato novo, a tendência é de alta até o final do ano; 2) o atraso no plantio do feijão das águas estimulou produtores e atacadistas a puxarem os preços em 23,7% em quatro dias; 3) alta de 15% em 30 dias do arroz agulhinha para o agricultor gaúcho, que ainda não foi repassada para os comerciantes; 4) aumento de 21% a 25%, dependendo da região, nas cotações do quilo vivo do suíno.
Também o café continua com os preços em processo de alta, pela escassez do produto existente no mercado internacional e pela expectativa de que deve haver uma grande quebra nas próximas safras brasileiras.
Para acalmar o mercado, o governo pretende intensificar os leilões de seus estoques reguladores. Se por um lado é importante manter os preços sob controle, por outro há necessidade de provocar reação em alguns mercados.
Existem mais de 10 milhões de toneladas de grãos vinculadas a Empréstimos do Governo Federal (EGFs). Se os contratos não forem pagos pelos agricultores, o governo será obrigado a adquirir esses produtos.
Daí o interesse das próprias autoridades em que haja alguma reação de preços para a quitação das dívidas. O retorno do dinheiro ao Banco do Brasil é vital para financiar o novo plantio de verão.

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