São Paulo, domingo, 25 de setembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Técnico diz que 'bateu' para salvar Agassi

THALES DE MENEZES
DA REPORTAGEM LOCAL

Com 33 anos completados no mês passado, o norte-americano Brad Gilbert ainda tem paciência para correr o mundo o ano inteiro jogando tênis.
Já foi o nº 4 do ranking, agora está entre os "top 100". Mas o que está levando seu nome de novo às manchetes é o título do US Open conquistado por Andre Agassi, seu "pupilo".
Gilbert aceitou a ingrata missão de substituir Nick Bollettieri e John McEnroe, dois mitos do tênis que treinaram Agassi nas últimas temporadas.
Os bons resultados vieram mais rápido do que o próprio Gilbert esperava. Depois de amargar um ano sem títulos, Agassi subiu mais de 20 posições no ranking –agora está na 9ª colocação.
"Andre será o número 1, não tenho dúvida", diz o técnico. Dono de um estilo clássico como jogador, Gilbert procura melhorar o saque de Agassi e deixá-lo mais confiante na quadra.
Ainda na "ressaca" do título do US Open, um dos quatro torneios mais importantes do tênis internacional, Gilbert falou por telefone à Folha de Nova York.

Folha - O título de Andre Agassi no US Open foi uma surpresa?
Brad Gilbert - Eu torcia por esse título, mas não tinha certeza se Andre conseguiria. Para ele, o US Open é um torneio difícil, mais do que para os outros tenistas. A pressão da torcida é muito grande, todos cobram demais.
Folha - Qual o segredo da vitória?
Gilbert - Acho que Andre usou essa mesma pressão a seu favor. Ele funciona desse jeito. Se você bate nele, o revide vem forte, pode apostar. Alguns tenistas são assim, usam sua carga emocional como combustível.
Folha - Você deve saber muito bem o que está falando, já que escreveu um livro sobre preparação psicológica.
Gilbert - Uma coisa que eu fiz questão de colocar no livro que lancei no ano passado é o fato de que cada tenista reage de um modo diferente. Acho que um jogador frio como Ivan Lendl não deve gostar do tipo de treinamento que faço com Andre.
Folha - Como é esse treinamento?
Gilbert - Falamos muito sobre motivação. Tento sempre ressaltar o lado espetáculo do tênis, a importância de se dar show na quadra. Eu senti como isso é fundamental para Andre. Mais do que ganhar, ele quer jogar bem, receber o aplauso das pessoas. Por isso que ele conversa com o público, faz piadas com os árbitros. Andre precisa disso.
Folha - Você acha que a relação com Brooke Shields deu a ele mais estabilidade?
Gilbert - Acho que só ele pode responder isso.
Folha - Você acha que a vida dele está mais tranquila?
Gilbert - Você está brincando? (risos) É um inferno o tempo todo. Não pela garota, mas pelo assédio que um casal desses desperta.
Eu não gosto de viajar com eles porque qualquer saída vira um festival de flashes de câmeras na cara da gente. Não sei como eles aguentam isso.
Folha - O que mudou no jogo dele? Só o lado psicológico?
Gilbert - Não, acredito que tenha me preocupado mais com o saque dele do que com qualquer outra coisa. Andre é tão rápido na quadra que adora trocar bolas, não ligando muito para matar o ponto o mais depressa possível. Conversamos muito sobre isso. Quero que ele seja mais matador.
Folha - Ele pode ser o jogador número 1 do mundo?
Gilbert - Ele vai ser. Não tenho dúvida sobre isso.
Folha - Ele é melhor do que Pete Sampras?
Gilbert - Talvez. Os resultados de Pete são muito mais expresivos, mas já vi Andre fazer coisas na quadra que nem Pete nem Jim (Courier) sonham em fazer.
Folha - Por exemplo?
Gilbert - Eu estou falando de bolas que parecem inalcançáveis. E Andre vai lá. Parece que tem um motor nas pernas.
Folha - Essa rapidez basta para ser número 1?
Gilbert - Não, mas Andre tem mais do que isso. Mais alguns títulos vão provar.

Texto Anterior: Cinco partidas fecham rodada no Espanhol
Próximo Texto: Dupla se uniu há oito meses
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.