São Paulo, domingo, 25 de setembro de 1994
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Editores evitam o otimismo com a feira

JOSÉ GERALDO COUTO
EDITORES EVITAM O OTIMISMO COM A FEIRA

Entre os editores brasileiros, há os pessimistas, os indiferentes e os moderadamente otimistas com relação às perspectivas comerciais de seus livros na 46ª Feira de Frankfurt.
Todos parecem concordar que a feira não é prioritariamente um local para fechar negócios, mas sim para "fazer um trabalho de prospecção", como definiu o editor Sérgio Machado, da Record, uma das maiores do país. Manter-se informado sobre o mercado internacional é o objetivo da maioria dos editores que vão a Frankfurt.
A Record, que detém os direitos de autores como Jorge Amado e Carlos Drummond de Andrade, vai à feira, segundo Machado, "mais para comprar do que para vender direitos". Para vender, está levando principalmente títulos da área dos esotéricos, editados por seu selo Nova Era. "Os esotéricos são a área onde temos mais a contribuir, assim como os ingleses são bons nos livros de espionagem."
Confirmando essa opinião, a Rocco vai a Frankfurt esperando fazer "megacontratos" em torno do novo livro de sua principal estrela, Paulo Coelho. "À Margem do Rio Pietra Eu Sentei e Chorei" só foi vendido até agora para Portugal, mas o editor Paulo Rocco espera que o livro cumpra o destino dos anteriores do autor, traduzidos em mais de 20 países.
Rocco é um dos poucos editores que dizem fechar bons negócios em Frankfurt. Cita como exemplo a compra dos direitos dos best-sellers "A Fogueira das Vaidades", de Tom Wolf, e "Breve História do Tempo", de Stephen Hawking.
A Melhoramentos, uma das principais patrocinadoras da presença brasileira na feira, levará oito escritores (em sua maioria autores de livros infantis, como Ziraldo e Ruth Rocha). Seu editor, Alfredo Weiszflog, é, compreensivelmente, um dos mais otimistas: "O potencial da nossa literatura infantil é enorme. Enquanto no resto da América Latina predomina a importação de títulos infantis, o Brasil produz uns 90% dos livros infantis que consome."
No estande coletivo brasileiro, de 250 m2, a Melhoramentos é a editora que ocupa o maior espaço: três módulos completos.
Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, diz que a mídia cria uma expectativa ilusória em torno da feira. "Há na verdade um desinteresse das editoras estrangeiras. Um exemplo: a editora alemã que tinha os direitos do Graciliano Ramos não os renovou."
Apesar disso, oito autores da editora estarão em Frankfurt, entre eles Chico Buarque e Moacyr Scliar. Schwarcz vai negociar principalmente os livros de José Roberto Torero ("O Chalaça"), Fernando Morais ("Chatô"), Zuenir Ventura ("Cidade Partida") e Patrícia Melo ("Acqua Toffana").
Entre as pequenas editoras também há divergências. Para Luís Baggio, da Nova Alexandria, a feira é "uma oportunidade para mostrar que o Brasil tem uma produção editorial de qualidade". Para Samuel Leon, da Iluminuras, que não vai a Frankfurt, o evento só tem interesse comercial para as grandes editoras, "que negociam os direitos mais pesados".
(JGC)

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