São Paulo, domingo, 25 de setembro de 1994
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Ladrões de Paris usam seringas como arma

The Independent
De Londres

JULIAN NUNDY

"Você não precisa mais atirar, matar ou ferir", disse um policial de Paris sobre a última moda dos assaltos na França. "Basta assustar a vítima".
Ele comentava a última tendência dos assaltos na capital francesa –assaltantes armados com seringas supostamente contaminadas com o vírus da Aids.
Desde o início do mês a polícia já recebeu queixas de oito ataques cometidos aparentemente por usuários de drogas, que aplicaram a tática principalmente no bairro de Les Halles, antigo mercado de alimentação, hoje repleto de lojas e restaurantes, onde o comércio de drogas prospera.
O local, onde há uma afluência muito grande de jovens, às vezes é assustador à noite. A simples recusa de dar fogo a um drogado para acender seu cigarro pode ser entendida como gesto de repúdio.
Às vezes o viciado e seus amigos cercam o transeunte incauto, que passa momentos nada agradáveis. A ostensiva presença de policiais armados de cassetetes não adianta muito.
Pelo menos dois dos assaltantes foram presos e aguardam julgamento por "ameaça com armas" –acusação normalmente aplicada ao uso de facas ou armas de fogo.
Na semana passada a polícia parisiense emitiu um aviso formal, advertindo que agulhas hipodérmicas agora se tornaram instrumentos de crimes.
Isso aconteceu após muita hesitação: a alta direção da polícia estava dividida entre assumir a responsabilidade de informar o público sobre a nova ameaça, e o medo de que a divulgação dos casos ajude a espalhar a tendência.
Num dos casos, uma mulher foi ferida com a seringa quando sua agressora ficou impaciente porque ela estava demorando para entregar seu dinheiro. A vítima acabou entregando 700 francos franceses –o suficiente para comprar um grama de heroína.
Ainda é cedo para saber se a vítima foi contaminada. É preciso esperar pelo menos seis meses até obter um resultado confiável dos testes de HIV.
A polícia está espantada com a novidade do método e a rapidez com que a tendência está se espalhando. O primeiro incidente foi reportado no início do mês em uma área residencial à margem esquerda do rio Sena.
Em meados do mês, cinco outros ataques já haviam sido registrados. Os dois últimos ataques com seringas ocorreram perto de Les Halles.
No último incidente, um homem foi ameaçado quando saía de uma estação de metrô, e a polícia conseguiu prender o assaltante.
Por enquanto, segundo a polícia, nada indica que os ataques passem de incidentes isolados, mas é provável que a notícia se espalhe e que "bandos de viciados se organizem".
Embora os assaltos com seringas contaminadas tenham sido cometidos principalmente em Paris, houve um caso em Les Sables d'Yvonne, no litoral atlântico a sudoeste de Paris, em que um viciado em heroína assaltou um farmacêutico com uma seringa e o obrigou a dar-lhe medicamentos. A polícia conseguiu prender o viciado.
Um policial comentou em tom fatalista que "os assaltos com seringas contaminadas devem ser sinal dos tempos que vivemos. É muito provável que se multipliquem e dêem idéias a muitos outros criminosos".

Tradução de Clara Allain

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