São Paulo, domingo, 25 de setembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Economia alemã empurra Kohl para o quarto mandato

OSCAR PILAGALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mal saída da recessão, a economia da Alemanha deve contribuir para que o chanceler Helmut Kohl conquiste seu quarto mandato, abrindo caminho para se tornar o chefe de governo alemão com mais tempo no poder depois da Segunda Guerra.
A chance de o líder da União Democrática Cristã se manter no cargo na eleição de 16 de outubro aumenta na mesma proporção em que os termômetros mostram a forte recuperação da economia.
Com a ajuda de indicadores positivos, Kohl conseguiu, nos últimos meses, trocar de posição com seu principal adversário nas pesquisas de opinião.
Hoje o chanceler tem metade da preferência do eleitorado e Rudolf Scharping, do Partido Social-Democrata, cerca de 40% –exatamente o inverso do que se registrava no final do primeiro semestre.
A recuperação não chegou a surpreender, dada a natureza cíclica da economia de mercado. Depois de uma recessão considerada a mais profunda das últimas cinco décadas, o que não se previa era o ímpeto do reaquecimento.
O lado oriental, alavancado por uma transferência de renda que chega a dezenas de bilhões de dólares por ano, puxa a reativação. Estima-se crescimento de quase 9% para este ano.
No lado ocidental, a recuperação é menos expressiva, mas consistente. O PIB (Produto Interno Bruto) deve expandir 2%, depois do recuo de 1,7% no ano passado. As exportações continuam mais importantes, mas o mercado interno começa a se expandir.
A indústria lidera o crescimento. Em julho, a produção industrial era 7,5% superior à do mesmo mês do ano passado. E, num país em que 85% da população vive em áreas urbanas, esse é o dado que mais conta em termos eleitorais.
Mesmo com esses resultados, que aproximam os dois lados, são enormes as diferenças entre Leste e Oeste, que persistem quatro anos depois da unificação, a serem completados na próxima semana.
O desemprego dá a medida das duas realidades. No lado ocidental, o índice é de 10% da força de trabalho, o que está na média da Europa, que é alta em relação aos Estados Unidos e Japão. No lado oriental, chega a 20%.
A recessão recente foi consequência da unificação. Os gastos para tentar aproximar o lado oriental do padrão do lado ocidental pressionaram a inflação.
Para combatê-la, o vigilante Bundesbank (banco central) aumentou os juros, prejudicando a atividade produtiva.
E, apesar disso, é no Leste que estão as maiores dificuldades de Kohl. Mesmo com todo o dinheiro lá investido, a recuperação não é uniforme (concentrando-se em algumas regiões), os salários são mais baixos e há, ainda, a influência dos comunistas, que ficam com 20% dos votos.
Enfrentando uma oposição de centro-esquerda que não consegue se unir a nível nacional, essas dificuldades não devem constituir ameaça à vitória de Helmut Kohl, que completa doze anos à frente do governo nesta semana.
Se as previsões se confirmarem, e se ele permanecer chanceler até a metade de seu próximo mandato, bateria o recorde de Konrad Adenauer, o mais importante líder conservador alemão, que dominou a política de seu país de 1949 a 1963, quando renunciou.

LEIA MAIS
sobre Alemanha à pág. 3-8.

Texto Anterior: Le Monde; Yangcheng; The Independent
Próximo Texto: Bruxos sul-africanos usam raios, animais e venenos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.