São Paulo, domingo, 25 de setembro de 1994
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Cidadania, responsabilidade e modernização

MÁRIO COVAS

Sempre defendi a idéia de que todo cidadão devia ao menos uma vez na vida ser candidato a algum posto eletivo. Seria uma forma de aprendizado de cidadania. Ele colocaria à prova suas idéias, em confronto com as de outros candidatos, se obrigaria a informar-se das limitações da função pública.
No contato direto com a população, na atividade de pedir votos nas ruas ou no horário eleitoral do rádio e da televisão, tomaria o pulso da população, sentiria as demandas sobretudo das camadas mais pobres da sociedade.
Com isso, seria capaz de fazer uma ponderação adequada de suas posições e das tendências dos demais cidadãos. Mais importante que tudo, o acervo de idéias e informações que reunisse o induziria a encarar com responsabilidade o exercício da função pública.
Hoje, faltando apenas uma semana para as eleições, ao fim de uma exaustiva campanha por todo o Estado de São Paulo, posso afirmar que, qualquer que seja o cidadão escolhido para governar São Paulo nos próximos quatro anos, ele terá de arcar com uma responsabilidade de um peso que nenhum de seus antecessores teve de suportar no passado, tamanha é a pressão das carências da população e tão grande a escassez de recursos do Estado, agravada por um longo período de desgoverno e sucateamento das finanças e bens públicos.
Se recair em mim a escolha, após mais de 30 anos na vida pública e tendo passado por este rico aprendizado de cidadania, que foi esta campanha eleitoral, sinto-me absolutamente seguro para afirmar que estou pronto a assumir tal responsabilidade, desde que me seja delegada pelo eleitorado no próximo dia 3.
Esta segurança nasce em primeiro lugar da convicção de que São Paulo é muito maior e está muito acima da mediocridade dos homens e correntes que dele se apoderaram nos últimos anos. Depois, da solidez dos princípios e propostas que elaboramos para este Estado –e apresentamos ao eleitor nos últimos meses–, com base nos estudos, reflexões e críticas de lideranças políticas e profissionais que reunimos para moldar nosso programa de governo, de forma que fosse um retrato fiel do pensamento majoritário dos paulistas.
Acho que conseguimos. As perspectivas que os números das recentes pesquisas nos abrem parecem confirmar o apoio da população a nossas idéias.
Para começar, é importante desfazer algumas maledicências difundidas por nossos adversários, sobretudo os apegados há tantos anos à máquina do poder:
1) A Nossa Caixa/Nosso Banco permanece como está enquanto, se for o caso e se eu for eleito, se procederem estudos aprofundados sobre as funções e objetivos de cada uma das instituições financeiras do Estado;
2) Não há estudo algum para privatizar a Sabesp, muito menos a Febem e outros órgãos públicos, como afirmam as sandices espalhadas ultimamente;
3) Não se pretende extinguir o ticket do leite, como também apregoam por aí justamente aqueles que em época de eleição procuram tirar partido desse benefício à população;
4) Questões de interesse do funcionalismo serão discutidas amplamente, às claras, de portas abertas, com a presença das entidades representativas dos funcionários, como fiz na prefeitura.
Enfim, gastaríamos aqui todo o espaço deste artigo para os "nãos" aos boatos com os quais se espera minar nossa candidatura. Em benefício do eleitor, a quem incumbirá a escolha no dia 3 de outubro, preferimos utilizá-lo para os pontos afirmativos de nosso programa de governo, que acaba de ser divulgado. E, desde logo, destacar que sua espinha dorsal é a modernização do Estado.
Melhor: mais que do Estado, do serviço público, de forma a garantir o atendimento eficiente de seu cliente principal, que é o cidadão paulista.
O que estamos propondo é um processo inédito de modernização, através do qual a máquina administrativa passe a ser conduzida segundo os princípios de gestão dos setores mais avançados da iniciativa privada –daí, quem sabe, a confusão deliberada com privatizações indiscriminadas–, com descentralização de recursos e responsabilidades, controle de qualidade e produtividade e avaliação sistemática do desempenho.
Isso implica expor os mecanismos de decisão e os próprios órgãos executores das políticas públicas à participação e controle da sociedade, para fechar os espaços ao clientelismo e à corrupção.
Pode-se admitir que o governador de um Estado do porte de São Paulo use recursos públicos para cobrir seus próprios irmãos com privilégios a que o cidadão comum não tem acesso? Ou que um ex-secretário, hoje também candidato ao governo, empregue o próprio sogro numa estatal? Ou que por todo o território paulista se esbarre com esqueletos de hospitais, escolas, ginásios esportivos, viadutos e outras obras inacabadas pelas quais o povo já pagou?
Corrigir tudo isso exige não apenas a revolução ética e moral a que nos propomos na administração do Estado, mas também uma radical transformação da estrutura do governo e da organização da máquina estadual. O eixo dessa metamorfose será a rigorosa aplicação dos mais modernos métodos empresariais à gestão da coisa pública.
Em outras palavras: fazer a máquina funcionar como empresa moderna, voltada à prestação de serviços eficientes ao consumidor final, que é o contribuinte. Não é tarefa fácil.
Basta registrar as distorções que interesses contrariados –que simplesmente não se acostumam à idéia de trabalhar– já começam a atribuir a nossas propostas. Mas não é tarefa impossível.
Ao contrário, nosso objetivo é levá-la a todas as esferas do serviço público –à educação, saúde, segurança, transportes, agricultura, geração de empregos, obras públicas, enfim, todos os setores da administração que hoje sucumbem ante o peso do anacronismo gerencial, clientelismo político e corrupção.

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