São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 1994
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Editora traz megalançamento de Gates

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Bill Gates, que revolucionou a informática com sua empresa Microsoft, produtora de programas de computador, revoluciona agora o mercado editorial: seu livro sobre o futuro da informação sairá simultaneamente em 13 línguas e 80 países.
Esse esquema de marketing, usado no lançamento de CDs de megaestrelas, é inédito no negócio de livros. O evento está marcado para a semana entre 6 e 12 de março de 1995. No Brasil, o livro sai pela Companhia das Letras.
Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras, ficou sabendo do livro em abril deste ano, através de uma informação transmitida a ele por um escritório de espionagem literária de Nova York.
Schwarcz, que paga por esse serviço, ficou sabendo apenas que se tratava de um livro sobre o futuro e que Gates estava pedindo astronômicos US$ 2,5 milhões de adiantamento por direitos autorais, só para os Estados Unidos.
Soube também que Gates queria um lançamento mundial e assim entrou em contato direto com a Microsoft, candidatando-se à vaga brasileira.
"Entrei no escuro", conta Schwarcz. Mas se editoras americanas estavam disputando o livro, por uma quantia nunca antes paga a qualquer escritor, a coisa tinha muita chance de ser boa, apostou.
Assim, apressou-se a responder o questionário enviado pela Microsoft, pedindo informações detalhadas sobre a sua editora. Assinou também a cláusula de "no disclosure", pela qual fica proibido de revelar o conteúdo do livro.
Schwarcz recebeu então o sumário de temas e capítulos, pelo qual se convenceu a lutar pelo livro. E para convencer os americanos, apresentou estratégia completa de lançamento.
Washington Olivetto, da W/Brasil, foi convidado a fazer uma campanha publicitária, sem poder ler o livro, que por sinal nem está pronto ainda.
Em três dias Olivetto entregou a campanha, que João Moreira Salles, sócio na Companhia das Letras, foi mostrar aos americanos da Microsoft.
Junto, levou ainda: a promessa de gastar US$ 200 mil na campanha de lançamento; edição mínima de 50 mil exemplares, um décimo da primeira tiragem nos EUA.
Em julho a Microsoft aprovou o pacote e cobrou, adiantados, US$ 55 mil de direitos editoriais. Uma mixaria para o mercado americano, uma fortuna para o brasileiro.
No mesmo mês os jornais americanos anunciaram que a editora Penguin levara o livro de Gates por "mais de US$ 2,5 milhões".
No Brasil, a campanha de lançamento será bancada pelo Unibanco, que tem uma sociedade com a Microsoft. A empresa desenvolveu o sistema do "banco 30 horas" do Unibanco.
O livro chegou a ter o título provisório de "Embracing the Future" (Abraçando o Futuro). Hoje, nem isso os editores admitem.
Schwarcz está limitado, por contrato, a dizer apenas que se trata de uma visão do futuro próximo. Tem algo da trajetória de Gates, mas não é uma autobiografia. Também não é um manual de tecnologia. É sobre a cultura do futuro, "esse mundo no qual você poderá acessar o museu do Louvre por linha telefônica e ver os quadros na tela do seu computador caseiro", diz Schwarcz.

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