São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 1994
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Corinthians revela fragilidade de caráter

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O desfecho da primeira fase do Brasileirão foi emblemático, pelo menos para o chamado trio de ferro: enquanto o Palmeiras fechava no sábado com tranquila goleada, assegurando a liderança disparada de todo o torneio, o tricolor perdia para o Paissandu, creiam, no Morumbi; ontem, o Corinthians, depois de ter folgado sobre o Criciúma, metendo 2 a 0 no primeiro tempo, passou um aperto para sair de campo com a vitória de 3 a 2.
Traduzindo: o Palmeiras segue, solidamente, no topo da hierarquia do futebol brasileiro, com o melhor time, o melhor elenco e a melhor performance. Pode vir a ser vítima de alguma surpresa, mas nunca de uma repetição.
Já o Corinthians oscila na formação de seu novo time em meio ao campeonato. Ora, exibe um futebol de arrasar, ora cai num lugar-comum que permite ao adversário criar asas.
Foi o que aconteceu ontem no Pacaembu. Logo ao primeiro minuto de jogo, numa bela combinação do ataque, Mano cruzou e Casagrande aparou de cabeça para Viola fuzilar.
Com a vantagem de 1 a 0, era de se esperar que a partir daí o Corinthians deslizasse em campo e pespegasse uma goleada histórica no Criciuma. Mas que nada. Preferiu ficar pelo meio-campo ensebando a bola (expressão dos tempos em que se passava sebo nas saudosas bolas de couro, o velho capotão), até que uma escapada de Leandro Silva, pela esquerda, resultasse num cruzamento que Casão aproveitou de cabeça.
No segundo tempo, então, bocejos espalhavam-se pelo meio-campo corintiano, o que permitiu ao inimigo chegar ao empate, com Jairo Lenzi e Sandro. O súbito temor de uma derrota humilhante parece ter despertado o time, que, na resposta, fechou o placar, com um gol de cabeça do zagueiro Henrique.
Quer dizer: esse Corinthians tem muito potencial. Tem mesmo recursos para enfrentar o Palmeiras, numa final. Mas ainda revela fragilidades, no campo da harmonia e do caráter, que podem levá-lo também à desgraça.
Já o São Paulo não consegue dissimular o seu declínio. Apesar da ausência de vários titulares, como Válber, Sierra (que ainda nem estreou) e Muller (que está de volta), cuja volta havrá de conferir maior força ao time, transmite a sensação de que algo se quebrou lá no fundo. Quem sabe aquela mística de vencedor, a magia do campeão, o ar de time ungido ou a certeza do corpo fechado.
Mais realisticamente, o que falta mesmo é um jogador de meio-campo que desequilibre, que invente, que atemorize o inimigo e acenda a chama da torcida. o São Paulo é quase perfeito, taticamente, de Zetti a Aílton, por isso mesmo talvez careça de um contraponto, um transgressor, um subversivo.
E, lá na frente, claro, um matador.

Com os três gols marcados ontem, Sávio, do Flamengo, vai confirmando seu título de maior revelação do futebol brasileiro dos últimos tempos. Ágil, inteligente, veloz, habilidoso, joga com a 11, é canhoto, mas intromete-se por todos os lados do ataque. Ainda por cima, é implacável, na hora da finalização.
Não acho que venha a ser um novo Zico. Mas, se não descair pelos desvãos da fama, logo logo será um ídolo nacional.

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