São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 1994
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Marines matam dez soldados haitianos

CLÁUDIO JULIO TOGNOLLI
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

Dez soldados da polícia nacional do Haiti foram mortos às 19h25 de anteontem a tiros de submetralhadoras Ingram e fuzis M-16, disparados por fuzileiros dos EUA.
Um marinheiro norte-americano foi atingido na perna direita por um disparo da polícia haitiana.
O enfrentamento ocorreu no Cabo Haitiano, a 270 km ao norte de Porto Príncipe, local onde está concentrado 60% do efetivo naval dos EUA. O marinheiro ferido foi atendido no destróier Wasp.
Segundo relato do coronel Tom Jones, responsável pelas operações no Cabo Haitiano, os marines dispararam depois que um dos soldados dentro do quartel colocou sua submetralhadora Uzi em posição de tiro.
O policial haitiano estaria agitado por causa de provocações feitas por manifestantes contrários ao governo militar.
Jones disse que os haitianos responderam ao fogo de dentro do prédio e do meio da multidão.
Segundo ele, é impossível determinar quem atirou primeiro, mas os marines são orientados a reagir quando ameaçados. "Espero que nosso tenente tenha disparado primeiro", afirmou.
Jones disse que o general Raoul Cedras, que visitou ontem o Cabo Haitiano, acusou os marines de "atrocidades".
Um grupo de 32 oficiais e soldados haitianos foi preso por ligação com o incidente. O Exército confiscou desses policiais dois revólveres calibre 38 e um rifle M-16.
Até as 18h de ontem, um grupo de 200 marines continuava cercando a sede da Polícia Nacional no Cabo Haitiano. Os marines ocuparam o primeiro andar do prédio.
Pelo menos 50 soldados haitianos ainda estavam em dois andares não tomados pelas tropas.
Segundo soldados dos EUA ouvidos pela Folha, os marines eram diariamente provocados pelos policiais haitianos no prédio da Polícia Nacional.
A polícia ainda continua sob o comando de Michel François, responsável pela morte de mais de 3.000 haitianos.
Na manhã de sábado, François havia travado um pacto de não-violência com as tropas dos Estados Unidos.
Depois do incidente, para acalmar os ânimos da população, o Exército distribuiu um comunicado informando que os navios militares dos EUA começariam a abandonar a baía de Porto Príncipe.
O objetivo seria, segundo os militares, "dar espaço" a que navios com ajuda humanitária e embarcações de refugiados perdidos no mar possam ancorar, dando-lhes segurança para que recuperem seus lares em sua pátria.

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