São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 1994
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'Edifício agrícola' combate miséria no Pará

ABNOR GONDIM
DA AGÊNCIA FOLHA, NA ILHA DE MARAJÓ (PA)

Um sistema denominado "agricultura em andares" está criando verdadeiros "edifícios agrícolas" em 37 comunidades rurais do Pará.
Desenvolvido desde 92 em quatro comunidades-laboratório, o sistema reúne num mesmo módulo de 400m2 113 plantas de 40 espécies, que alcançam diferentes níveis de altura (veja quadro abaixo).
O projeto é coordenado pelo Poema (Programa Pobreza e Meio Ambiente da Amazônia), da Universidade Federal do Pará, e conta com apoio da Secretaria de Agricultura e da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural.
Pedro Miranda, coordenador de agrossilvicultura do Poema, diz que o método permite ao pequeno agricultor obter uma variedade de safras no mesmo módulo agrícola.
"Para vencer a pobreza dos solos e dos agricultores na Amazônia, tentamos desenvolver um sistema de agricultura economicamente viável, ecologicamente prudente e socialmente justo", diz.
O sistema procura imitar a natureza amazônica, reproduzindo o processo natural da recuperação da floresta em áreas degradadas, especialmente por monoculturas.
Além de diversificar a produção, o Poema recupera os solos degradados com os nutrientes deixados pelas próprias espécies plantadas na área.
A melhoria dos solos faz com que o agricultor não destrua novas áreas da floresta.
Inspirado em experiência dos índios caiapós, do sul do Pará, o sistema dispensa o uso de insumos químicos e adubos minerais.
Pesquisa realizada pelo Poema mostra que a degradação dos solos na Amazônia favorece a destruição de novas áreas de florestas e o engajamento precoce de crianças nas atividades agrícolas.
Miranda diz que o principal objetivo do Poema é melhorar a renda familiar no campo.
Segundo ele, a renda familiar mensal na comunidade de Praia Grande aumentou de US$ 89 para US$ 352,67 de 1990 para cá.
"O solo estava pobre e cada vez mais precisávamos comprar adubos e mecanizar os cultivos, sem melhorar os resultados", diz David de Amorim, 66, da Associação dos Produtores da Praia Grande.
Um resultado inesperado foi a presença de mulheres e crianças nos primeiros andares dos módulos. Destinados ao auto-abastecimento, eles conseguiram melhorar a alimentação das comunidades.

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