São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 1994 |
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Luis Gustavo reencontra Beto Rockfeller
ARMANDO ANTENORE
"Cansei. As coisas mudaram muito. A televisão virou um açougue, uma máquina de produzir. Hoje, o fulano entra pela primeira vez no estúdio e já pensa que é ator. Não tem talento, não sabe nada de nada, mas pega o jeitinho e sai posando de galã. Procuro manter a calma, procuro ajudar. Só que é duro. Contracenar com minhoca cansa", lamenta, sem dar nome às minhocas. Foi justamente para resgatar –e celebrar– os tempos heróicos da televisão que Luis Gustavo, 60, se dispôs a concretizar agora um projeto de dez anos. Na semana passada, em Americana (interior de São Paulo), estreou sem nenhum alarde o monólogo "Eu Sou Beto Rockfeller". Amanhã, vai encená-lo no Teatro Municipal de Leme (SP). A peça relembra a carreira de Luis Gustavo, que começou como "cameraman" na Tupi em 1950, se tornou técnico de som, assistente de estúdio e finalmente ator. "Há dez anos sonho com o espetáculo. Demorei para montá-lo por uma única razão: o medo de estar sozinho no palco." Em pouco mais de uma hora, o ator narra histórias sobre os bastidores da televisão, principalmente os da pioneira Tupi. Revela como nasceu o personagem Beto Rockfeller, homenageia colegas e ironiza as gafes que se cometiam quando ainda não havia videoteipe e os programas entravam no ar ao vivo. Os "causos" soam muitas vezes inverossímeis. Luis Gustavo jura que são todos reais. "Não conto nenhuma mentira em cena." Adeus Com a peça, o ator pretende encerrar a carreira. "Se o espetáculo funcionar, se tiver bom público, paro por aqui. Não volto mais à televisão nem me aventuro em outro projeto teatral. Fico só fazendo o monólogo, tranquilo, quando e como quero." "Eu Sou Beto Rockfeller" deve chegar à cidade de São Paulo depois do Carnaval. Em 94, irá circular apenas pelo interior do Estado. Rio e outras capitais não estão nos planos de Luis Gustavo. "É uma peça muito paulista. Fala da Tupi, do Sumaré, de coisas que sensibilizam mais o público de São Paulo", explica. O espetáculo, dirigido por Antonio Abujamra, não tem roteiro. Luis Gustavo listou os temas que gostaria de abordar, Abujamra selecionou os que considera mais engraçados ou inusitados e ponto final. No palco, o ator recorre única e exclusivamente ao improviso. "Para diminuir a solidão em cena, inventei um amigo imaginário, o Marinho. É meu Sancho Pança, minha consciência. Tudo o que conto, digo que aconteceu comigo e com o Marinho." Improviso, imprevistos e afins nunca atrapalharam Luis Gustavo. Pelo contrário. Os "cacos" hilariantes que disparava em "Beto Rockfeller", as frases sem pé nem cabeça que acrescentava ao script ajudaram a garantir o sucesso da novela. A trama, que a Tupi exibiu entre 68 e 69, tinha roteiro do dramaturgo paulistano Bráulio Pedroso (1931-1990). Revolucionou a televisão sobretudo por abrir espaço para o coloquialismo numa época em que os galãs de novela ainda empostavam a voz. Ao longo dos 298 capítulos de "Beto Rockfeller", os atores falavam gírias e faziam referências a acontecimentos verdadeiros, que ocupavam as páginas de jornais e revistas. Tatá Filho de um diplomata espanhol, Luis Gustavo Sanchez Blanco nasceu em Gotemburgo (Suécia) e se mudou para o Brasil aos cinco anos. Garoto, ganhou o apelido de Tatá. É assim que o chamam até hoje nas coxias e estúdios. Conheça, a seguir, algumas das histórias que Luis Gustavo conta durante o espetáculo. LEIA MAIS sobre "Eu Sou Beto Rockfeller" à pág. 5-3 Próximo Texto: Gafe 'manchou' estréia na TV Índice |
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