São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 1994
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Parlamento reabre amanhã

CLÁUDIO JULIO TOGNOLLI
DO ENVIADO ESPECIAL

Amanhã às 9h será reaberto o Parlamento haitiano. Fechado em setembro de 1991, foi reaberto um mês depois e é considerado hoje uma instituição capenga.
Voltaram ontem ao Haiti dez deputados que estavam exilados nos EUA e são dos partidos que elegeram Jean-Bertrand Aristide: FNCD (Frente Nacional pela Mudança Democrática) e Konakon.
O Parlamento haitiano tem 82 cadeiras, mas é frequentado por 112 parlamentares, 70 dos quais não são reconhecidos pelo governo norte-americano.
"O Parlamento mais uma vez vai vestir as calças de legitimador do Executivo. Não está preparado para suas tarefas. É como o Parlamento brasileiro após a Constituição de 1824, que previa o voto censitário", diz José Soares Júnior, secretário da embaixada brasileira no Haiti, atualmente desempenhando as funções de embaixador.
A primeira questão a ser discutida na reabertura é a da anistia. O general Raoul Cedras deseja perdão total e irrestrito aos crimes cometidos por seus comandados –como o assassinato do ministro da Justiça Guy Malary.
"A anistia deve ser restrita; todas as pessoas responsáveis por crimes contra a população devem ser punidas", disse René Gouraige, o mais respeitado ativista de direitos humanos do Haiti.
A questão mais difícil para o Parlamento será a avaliação da concessão de anistia para homens como Michel François.
Acusado de assassinatos e prevendo que uma anistia restrita poderia sepultar seu futuro no país, François entregou o comando da Polícia Nacional aos americanos.
A reabertura do Parlamento e a eventual anistia iniciam a temporada haitiana de negociações e devem facilitar a missão das tropas do general Henry Hugh Shelton.
A única força real que ainda representa os anseios de quem votou em Aristide é a "Petite Eglise" (pequena igreja), organização religiosa que segue a Teologia da Libertação (de esquerda).
(CJT)

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