São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 1994
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Todos da mesma turma

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO – A se manterem inalterados os números da pesquisa Datafolha publicada ontem, o novo governador do Rio será mesmo escolhido entre Marcello Alencar (PSDB) e Anthony Garotinho (PDT), ambos empatados em 31% na preferência dos eleitores.
Embora hoje estejam em searas diversas, e disputando palmo a palmo os eleitores do Estado, os dois candidatos têm muito mais coisas em comum do que divergências. A começar pelo passado.
Ambos os candidatos são oriundos do brizolismo, corrente política liderada pelo ex-governador e candidato do PDT à Presidência, Leonel Brizola.
Mas um é brizolista arrependido e rompido com o mentor (caso de Alencar) e o outro é brizolista "dissimulado", uma vez que não faz questão alguma de exaltar suas ligações com Brizola.
Não é de se estranhar tal comportamento, bastando para entendê-lo convenientemente voltar aos números do Datafolha. Dentre os presidenciáveis, Brizola permanece ostentando o penoso título de campeão brasileiro da rejeição (média nacional de 42%).
Pior: é aqui no Rio –Estado por ele governado duas vezes– que Brizola encontra números dos mais indigestos: 48% dos eleitores ouvidos disseram que não votariam nele de jeito nenhum; rejeição inferior apenas a São Paulo e Distrito Federal, onde ela chega a 50%.
Como pode um mesmo eleitorado estar decidindo pleito local entre dois candidatos que têm como raiz comum um líder político que hoje está dividindo o quarto lugar na preferência dos eleitores deste mesmo Estado –mas para a votação nacional– com o bizarro Enéas Carneiro?
As justificativas para esta contradição em termos podem ser muitas, e sejam quais forem, elas pelo jeito convencem os eleitores.
Afinal, ao mesmo tempo em que eles rejeitam duramente Brizola, acreditam no que diz um candidato que é e noutro que foi de sua turma.
Ou será que se trata apenas da falta de opção que a sociedade civil do Rio de Janeiro criou para si própria e que vai obrigá-la a conviver, no nível mais próximo, com aquilo que ela não deseja para o país?

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