São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 1994
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Dutra S.A.

Qualquer cidadão sabe pela sua experiência cotidiana da deterioração progressiva por que vêm passando áreas de infra-estrutura no Brasil. Das estradas mal conservadas à insuficiência crônica do sistema telefônico, esse problema causa particular preocupação na medida em que apresenta um alcance tentacular, afetando de modo direto ou indireto as mais variadas áreas da atividade no país.
Os custos de recuperação dessas deficiências contam-se reconhecidamente na casa dos bilhões de dólares, quando se sabe que o Estado brasileiro encontra-se em situação quase falimentar.
Nesse sentido, é animador que o governo finalmente se decida pela participação da iniciativa privada na indispensável –e já tardia– recuperação da malha viária nacional. O Ministério dos Transportes anunciou que a licitação para a privatização da via Dutra deve ser feita ainda este ano, com a transferência da responsablidade pela conservação sendo concluída em meados de 1995. No mesmo prazo –aliás, excessiva e lamentavelmente longo–, deverá ser desestatizada também a administração de outras rodovias em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
Apesar de fazer a ligação entre os dois maiores centros urbanos do país, a Dutra, como se sabe, encontra-se em condições vergonhosamente precárias. Para os usuários hoje forçados a enfrentar toda sorte de irregularidades na pista, a perspectiva de repassar a manutenção da rodovia para a iniciativa privada é a que acena com a possibilidade mais realista de melhoria efetiva.
É evidente que esse tipo de privatização é delicada na medida em que envolve quase que um monopólio natural. As cláusulas relativas às tarifas de pedágio a serem cobradas, bem como a realização pelo administrador privado de investimentos visando à recuperação das estradas deverão ser totalmente transparentes e objeto de acompanhamento atento pelo Estado e pela sociedade.
Cabe agora cobrar do governo que leve tais planos adiante e os amplie para toda a infra-estrutura, tão carente como as rodovias.

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