São Paulo, quarta-feira, 28 de setembro de 1994
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Só um débil engendraria tal regulamento

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Quem me contou foi o Márcio Bernardes. Diz que o correspondente da agência de notícias 'Reuters' no Brasil, o simpático inglês Brian, mandou uma matéria explicando a fórmula do Brasileiro. A sede da agência, ao receber o insano despacho, achou que o correspondente havia cometido um erro. Cobrou-lhe nova matéria. Mas era aquilo mesmo. Algo incompreensível para um brasileiro com altíssimo QI e habituado aos tropicalíssimos costumes. Que dirá para o cérebro disciplinado de um inglês? Resultado: a Reuters desistiu de distribuir a matéria.
Si noné vero...É muito provável, pois só um perfeito débil mental seria capaz de engendrar tal regulamento, e um bando de irresponsáveis teria coragem de avalizá-lo, o que vale dizer: quase todo o universo da cartolagem do futebol.
Sim, porque esse esdrúxulo regulamento premia os incompetentes e pune os competentes. Exemplo: os desclassificados, aqueles que não conseguiram um resultado mínimo –classificavam-se quatro em seis, na primeira fase– têm muita mais chances do que os classificados. Claro, pois disputam duas vagas entre seis times. Já os que mostraram competência para se classificar terão de brigar por seis vagas entre 16 concorrentes. Pode? Pode. Tudo é possível sob as bênçãos de Ricardo Teixeira.

Por falar em CBF, pegue-se esse caso de William. O moço foi sorteado para fazer exame antidoping. Demorou-se, e o inefável Eurico Miranda, diretor do Vasco, simplesmente arrastou-o do vestiário sob o pretexto de que precisavam embarcar no avião para o Rio. O jogador foi suspenso temporariamente por 20 dias. E o Vasco soltou um libelo contra o exame antidoping. É a história da banana comendo macaco. É a história do Brasil.

Ouço intrigas de todos os lados e todas confluem para o mesmo ponto: Telê já encheu o saco dos jogadores do São Paulo, com suas ranzinzices. Até pode ser. Mas, se for, quem perde é o jogador. Lembro-me de Raí, que dizia de Telê o seguinte: é chato, mas faz você crescer.
Hoje, o tricolor enfrenta o Nacional, podendo perder até de 1 a 0. Vejamos como se comportam os jogadores, cuja única obrigação, no caso, é vencer de 4 a 0.

Outro dia, fui surpreendido com um telefonema do "Correio do Povo", de Campinas, para escalar minha seleção do primeiro turno do Brasileiro. Escalei, mas me arrependo. A falta de tempo para reflexão me traiu. Então, agora vai: Paulo César, da Lusa, embora Zetti siga sendo, para mim, o melhor do Brasil; Índio, Válber, Ricardo Rocha e Roberto Carlos; César Sampaio, Amoroso e Zinho; Edmundo, Túlio e Sávio. Um time arrasador, ofensivo, jovem, com uma única exceção. Enfim, o retrato do nosso futebol.

Como? Leio nos jornais que Jair Pereira deixará Casagrande no banco, sob a argumentação de que os recém-contratados vieram para jogar. Nesse caso, ele se refere a Luisinho e Boiadeiro, que formarão o meio-campo com Zé Elias. Peraí: o Casão não é nenhum neófito, nem veio para o Parque como um cadáver. Entrou na últim partida, jogou muito, deu um gol de bandeja para Viola e marcou outro. Tirá-lo do time sob tal pretexto é, no mínimo, um acinte.

O Guarani parece ter se reencontrado com Carlos Alberto Silva, aquele mesmo treinador responsável pela maior conquista do clube: o título brasileiro de 78.

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