São Paulo, quarta-feira, 28 de setembro de 1994
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Urucubaca

THALES DE MENEZES

Jennifer Capriati revela que quis se suicidar. Michael Stich e Goran Ivanisevic revelam que têm recebido telefonemas anônimos com ameaças de morte, uma coisa com a qual Boris Becker e Steffi Graf já estão bem acostumados.
Mais do que um crise de ídolos, o tênis mundial vive uma fase de tremendo baixo astral.
Começou com o louco que esfaqueou Monica Seles em Hamburgo, em abril do ano passado.
Os 17 meses de afastamento das quadras já foram mais do que suficientes para a recuperação física de Seles. Se ela não volta, é questão de cabeça. Em sua última aparição pública, estava gorducha e não dava a mínima pinta de quem está se preparando para jogar.
Este ano, todo mundo enfrentou ou está enfrentando problemas de contusão: Sampras, Graf, Becker, Agassi, Bruguera, Medvedev, Stich, Martina.
A mesma Martina que está se retirando das quadras, desfalcando o combalido circuito que sente muito a falta de Seles e Capriati. No masculino, Edberg e o ameaçado Stich falam em parar.
Novos ídolos? Só o furacão russo Yevgeny Kafelnikov. É muito pouco para a temporada inteira.
Esse baixo astral deve ter impregnado o próprio jeito de se jogar tênis. O confronto Suécia x EUA, pela Davis, transmitido pelo canal por assinatura Sport TV, foi um espetáculo modorrento. Até o fã mais entusiasmado não aguentou assistir.
Os quatro combatentes, Pete Sampras e Todd Martin pelos EUA, Stefan Edberg e Magnus Larsson pela Suécia, estão entre os jogadores mais bem-educados do circuito. E o público era composto de 6.000 suecos, todos eles frios até a medula.
Resultado: nenhuma reclamação com o árbitro, nenhuma provocação da torcida, nenhum bate-boca entre jogadores ou qualquer outro ingrediente habitual das acaloradas disputas da Davis.
Ninguém defende atos como os da torcida italiana em 1977, que usava estilingues para atirar moedas no sueco Bjorn Borg na quadra do Fórum Itálico. Nem os potes de sorvete que a torcida austríaca arremessou contra seu próprio ídolo, Thomas Muster.
No entanto, as partidas entre norte-americanos e suecos davam a impressão de jogo noturno de torneio interclubes. Sem garra, sem vibração, sem participação da arquibancada, sem cara de Davis.
Deve ter um sapo enterrado na quadra Central de Wimbledon. É muita urucubaca.

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