São Paulo, quarta-feira, 28 de setembro de 1994
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Repatriados não demonstram alegria

CLÁUDIO JULIO TOGNOLLI
DO ENVIADO ESPECIAL

Um grupo de 142 haitianos foi repatriado ontem ao país. Chegaram às 10h na fragata Durable, da Guarda Costeira da Flórida. Foram recebidos por cerca de 500 pessoas, que gritavam: "Bem-vindos, Aristide está voltando".
Cada repatriado trazia somente a roupa do corpo, uma pequena mochila nas mãos e absolutamente nenhum deles parecia muito feliz em retornar ao seu país.
"Pelo menos na base de Guantánamo eu tinha o que comer, tinha amigos e um rádio de pilha", disse Roger Corfu, que em fevereiro passado tentou chegar a Miami num barco com 60 pessoas.
Desde o dia 15 de janeiro de 1993, 25 mil haitianos foram encontrados no litoral da Flórida. Onze mil já foi repatriados.
A volta dos haitianos é exibida às TVs como uma grande festa, que os americanos tentam vender como a mais alegre possível.
Além dessa estratégia de marketing, as tropas dos EUA agora fazem visitas-surpresa com ambulâncias à favela de Cité Soleil, onde vivem mais de 700 mil pessoas.
O coronel Barry Willey, porta-voz das tropas dos EUA, disse que a ocupação dos cantos mais perigosos da cidade está sendo lenta. E afirmou que nesse quesito os EUA vão "pegar leve".
"Começamos ontem a entrar o máximo possível nos cantos da cidade. É uma tarefa muito complexa, com segurança muito difícil. Vamos invadir a favela de Cité Soleil muito aos poucos".
A entrada das tropas nesses cantos da cidade provocou uma mudança curiosa em Porto Príncipe: o comércio está ficando aberto até mais tarde, o movimento está aumentando e os preços caindo.
Um refrigerante, que chegou a US$ 10 um dia depois da invasão, agora custa US$ 2.
Um maço de cigarros, que não saía por menos de US$ 5, agora custa US$ 1.
O comerciante dominicano Luiggi Pardo, 40, diz que a invasão norte-americana libertou as fronteiras, facilitando o contrabando de produtos da República Dominicana para o Haiti.
"Para os mercadores e pequenos comerciantes, o embargo comercial, que existe desde 1991, praticamente acabou. Agora é uma questão de simples abastecimento", afirmou. O fornecimento de água e eletricidade foi restabelecido no domingo.
Cerca de 2.000 haitianos saquearam um armazém da ONU com alimentos doados por uma entidade humanitária européia na favela de Jean Bosco, em Porto Príncipe. Os saqueadores lutaram entre si pela posse de sacos de arroz e feijão e pelo menos uma mulher foi gravemente ferida.
(CJT)

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