São Paulo, quarta-feira, 28 de setembro de 1994 |
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Ovos e montanhas A persistência do ágio na venda de carros populares e os aumentos de preço em alguns setores colocam ao governo a perspectiva de reduzir ainda mais as alíquotas de importação e tomar novas medidas de combate à inflação. De fato, é inaceitável que as montadoras e revendedoras de automóveis permitam –para dizer o menos– a cobrança de ágio. Enquanto o cidadão recebe serviços pífios do Estado, o setor automobilístico se beneficia de uma importantíssima redução de impostos e pouco faz para impedir que o consumidor sofra uma verdadeira extorsão ao pagar preços até 50% superiores aos do valor de tabela. A utilização das alíquotas de importação no combate a essas distorções envolve, porém, alguns riscos. Como há uma inexorável demora entre a data de sua redução e a efetiva entrada dos produtos importados, o nível de diminuição tarifária que satisfaz as preocupações de curto prazo pode ser inadequado no futuro próximo. A agilidade na redução de alíquotas visando unicamente ao controle de preços dificulta a negociação de contrapartidas comerciais. Ademais, os custos envolvidos na construção das estruturas de importação e exportação e a importância de manter um horizonte estável para os investimentos também recomendam cautela na manipulação de curto prazo das tarifas externas. Por esses motivos, ainda que não se possa descartar o recurso a uma política comercial mais dura, é de toda conveniência estudar a adoção de medidas complementares ou alternativas. Não resta dúvida que a prioridade de estabilizar a economia e eliminar vícios e privilégios dos oligopólios demanda uma ação rigorosa do governo. As pressões que se vêm acumulando nestes três meses de vigência da nova moeda e as diferentes implicações das medidas que visam a combatê-las desenham, entretanto, um cenário bastante complexo. O governo está pisando em ovos e, mesmo assim, precisa mover montanhas. Próximo Texto: O Brasil e a ONU Índice |
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