São Paulo, quarta-feira, 28 de setembro de 1994
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O Brasil e a ONU

Conforme é da tradição das Nações Unidas desde sua fundação, o discurso de abertura da 49ª sessão da Assembléia Geral da organização, esta semana, foi feito pelo representante do Brasil. Diferente de muitos pronunciamentos diplomáticos apenas formais, a manifestação do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, suscita interesse e desperta alguns comentários.
Avaliando as transformações ocorridas desde a queda do Muro de Berlim, há cinco anos, Amorim destacou que, apesar dos avanços verificados –como o acordo entre árabes e israelenses e o fim do apartheid na África do Sul–, restam muitos desafios para a comunidade internacional, tais como a sangrenta guerra civil na Bósnia e os massacres verificados em Ruanda.
Até aí, nada de novo, mas a posição adotada pelo ministro brasileiro em relação a dois desses desafios –Cuba e Haiti– chama a atenção pela sua clareza e consistência. Oportunamente alertando contra a violação dos princípios da autodeterminação dos povos e da não-intervenção, Amorim criticou a interferência norte-americana no Haiti.
Do mesmo modo, condenou o isolamento imposto pelos Estados Unidos a Cuba como um resquício anacrônico da Guerra Fria. É verdade que faltou uma crítica mais veemente ao regime ditatorial do país de Fidel Castro, mas mesmo assim o posicionamento adotado pelo Brasil nestes casos é sem dúvida digno de registro.
O chanceler ressaltou ainda que o país espera assumir um papel mais ativo em questões internacionas daqui por diante, com o processo de estabilização em curso. É fato que o Brasil já foi um interlocutor de maior peso, mesmo face a outras nações latino-americanas, em épocas de maior dinamismo interno, e que essa posição foi corroída por sucessivos anos de crise.
É razoável assim supor que uma eventual retomada dos padrões históricos de crescimento efetivamente concedam ao país uma importância algo maior no xadrez da "Realpolitik" mundial.
De todo modo, para um país que vem de um interregno de relativa marginalização no cenário global (com exceção talvez da arena comercial), pretender uma participação mais ativa, firme e delineada no concerto das nações é não só desejável como necessário.

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