São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 1994
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Ciro admite aumento da inflação já em outubro

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Ciro Gomes, reconheceu ontem que a inflação deverá ter um repique já em outubro. Ele citou o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe, que deverá sair de 0,78% este mês para cerca de 2% em outubro.
O fim do IPC-r foi defendido pelo ministro da Fazenda, que acha um "erro o governo ter um indexador oficial". Segundo ele, o IPC-r deve acabar em julho próximo –quando deixará de ser o índice de reposição automática dos salários.
A continuidade do IPC-r como indexador de outros contratos está prevista na medida provisória do real e na lei nº 8.880/94, que criou a URV. Ciro disse que "é preciso desindexar totalmente a economia".
Apesar de ter se declarado "inimigo do IPC-r", Ciro afirmou que o índice não deve acabar agora, por ser um "elemento de confiança do Plano Real".
Ele propôs aos institutos de pesquisa e universidades a reformulação dos índices que medem o custo de vida.
Ciro atribuiu ao aumento do salário mínimo –de R$ 64,79 para R$ 70,00– em setembro e ao lançamento da coleção de vestuário primavera-verão as pressões de preços que farão a inflação subir em outubro.
Na avaliação do ministro, os preços da carne deverão se estabilizar em breve por conta do início da chuva. "O governo não tem nada a fazer, estamos dependendo do clima", afirmou.
O ministro voltou a dizer que "se necessário for, o governo vai aumentar a tributação do capital estrangeiro aplicado nas bolsas". A medida visa diminuir a entrada de recursos estrangeiros no país, que se torna inflacionária por resultar em expansão da base monetária.
A divulgação do nome das concessionárias de automóveis envolvidas na cobrança de ágio nos preços dos carros populares foi defendida ontem pelo ministro da Fazenda. Isso não aconteceu ainda por causa do sigilo fiscal.
Na opinião de Ciro, "só o bom contribuinte merece ser protegido pelo sigilo fiscal". A Receita Federal levantou provas da participação de dezenas de concessionárias no esquema do ágio.
O ministro disse também que o governo poderá reduzir ainda mais as alíquotas do Imposto de Importação dos automóveis, que há 15 dias caíram de 35% para 20%.
Ciro acha difícil o Congresso Nacional aprovar nova emenda constitucional até o final deste ano para prorrogar a vigência do IPMF. Por isso, afirmou, não vê chances de estender o tributo para o próximo ano.
Tarifas
A quatro dias das eleições gerais e em plena greve dos funcionários da Petrobrás, o ministro voltou a prometer possíveis reduções nos preços dos combustíveis e de outras tarifas públicas.
O argumento de Ciro é que ganhos de produtividade e redução de custos de todas as estatais podem ser repassados aos consumidores. Com isso, as tarifas públicas seriam reduzidas.
É o caso, por exemplo, dos preços dos combustíveis, beneficiados pela valorização do real em relação ao dólar e pela queda no preço do petróleo no exterior.
A eventual redução nos preços dos combustíveis já havia sido anunciada pelo ex-ministro Rubens Ricupero. Segundo ele, seria um repasse ao consumidor da redução de custos da Petrobrás.
Na realidade, o anúncio foi uma maneira encontrada para reduzir o impacto no noticiário do IPC-r de agosto (5,46%), conforme admitiu Ricupero em conversa captada por antenas parabólicas e que resultou na sua saída do governo.
Ciro admitiu ontem que uma possível redução dos preços dos combustíveis, se chegar a ser efetivada, vai durar somente enquanto os preços do petróleo se mantiverem estáveis no mercado internacional.Segundo o ministro, "os preços voltarão a subir se lá fora houver alta".
Se o governo chegar a reduzir em 2% os preços finais dos combustíveis, o consumidor poderá ter ganho de R$ 4,40 em um tanque com 45 litros. O cálculo considera em R$ 0,52 o litro da gasolina.

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sobre preços na pág. 2-1

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