São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 1994
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Brizola vê a razão

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A eleição de 94 operou um milagre. Nos últimos dias, Leonel Brizola tem esbarrado com a lucidez. Num de seus encontros fortuitos com a razão, Brizola pensou em renunciar. Chegou mesmo a mencionar a idéia, em diálogos com alguns de seus mais fiéis confidentes.
Ontem, a tese de renúncia parecia esvair-se. Mas, de todo modo, a simples discussão do assunto revela um feito extraordinário. Algo que não encontra explicação nas leis da natureza: Brizola admitiu a própria derrota.
É pena que Brizola tenha acordado tarde. Não há mais remédio. Arrisca-se a ser humilhado em 3 de outubro.
A história é implacável com os políticos que perdem o senso de oportunidade. E Brizola perdeu o seu. Em 94, ele é candidato de si mesmo.
Dono de uma das mais ricas biografias do Brasil contemporâneo, está prestes a ser batido por Enéas.
No início da campanha eleitoral, Brizola explicava a própria candidatura de forma singular. Dizia que os amigos o "intimavam" a disputar a Presidência. "Não costumo deixar amigo meu na estrada", comentava, simulando apoios inexistentes.
Agora, sozinho à beira de um caminho que imaginava apinhado de aliados, Brizola não conseguiu articular nem a própria renúncia.
Planejava encaixar sua saída num movimento mais amplo, em que discursaria denunciando a "ilegitimidade" da eleição.
O plano supunha a renúncia de outros candidatos que padecem de inanição nas pesquisas - Orestes Quércia e Esperidião Amim, por exemplo.
Ontem, Brizola assegurava aos auxiliares que ficaria até o fim. Faria apenas um pronunciamento, no horário eleitoral gratuito de hoje ou de amanhã.
A exemplo de Lula, dirá que as eleições foram maculadas por uma série de manipulações, entre elas o Plano Real. A diferença é que considera Lula como parte integrante da "armação".
Brizola se refere ao candidato petista como um "instrumento" das elites para legitimar a vitória de Fernando Henrique.
Brizola termina a eleição como vítima do próprio sonho, subitamente transformado em pesadelo. Se fosse candidato ao Senado, estaria eleito.
Melhor: flutuaria sobre a disputa presidencial como uma referência. Seria cortejado por todos. Preferiu o suicídio.

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