São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 1994
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Por amor ou por dinheiro

CARLOS SARLI

Confesso que quando comecei a pegar onda, o modismo teve um peso importante na decisão.
Na época, os longboards já faziam parte do passado e as "mini-models" mediam quase oito pés. Vieram as "bonzers", os "stingers" e quando chegaram as biquilhas, muitos dos meus amigos já tinham desistido do surfe. Outros no entanto, chegaram ao profissionalismo ou se envolveram com outros esportes.
Sempre fui intrigado para compreender as razões pelas quais alguém se dedica a esse ou aquele esporte.
Dominar a terra, o ar e o mar sempre foi um sonho da humanidade. Esse domínio se faz desde o uso da tecnologia nos aviões aeroespaciais até o maluco atrás da onda perfeita numa ilha perdida da Indonésia.
As motivações são as mais diversas. Entre os que se dedicam ao surfe como profissão, algumas são originais.
Tom Carrol diz que, no início, seu objetivo era ser melhor que seu irmão. Sunny Garcia gostava de vencer e depois olhar para a cara do seu oponente. Outros como Martin Potter ou Gary Elkerton vêem de forma mais simples: "Ser o melhor".
Além dessas razões aparentes, obviamente deve se levar em conta o interesse financeiro. O bicampeão mundial Tom Carrol, que alega a competição familiar para sua dedicação inicial, se aposentou no ano passado e faturou algo em torno de meio milhão de dólares, só em prêmios.
Mesmo os surfistas brasileiros, ao menos os melhores, recebem cerca de US$ 50 mil por ano, só em salários.
Fabinho Gouveia, o melhor brasileiro no mundial, já embolsou, em cinco anos de carreira, perto de US$ 250 mil em prêmios. Nada mal para um país onde o mínimo é de R$ 70,00.
No início das carreiras se admite que as razões sejam ingênuas e mais puras, mas, com o passar do tempo, o status conferido pela competição e a grana fazem o deslumbramento pelo sucesso.
A minha experiência diz que o embalo da harmonia é uma esperança permanente do surfista. A imensidão do espaço e do tempo, dentro de um tubo, é uma justificativa difícil de explicar e óbvia para quem conhece.

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