São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 1994
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Coelhinha Playboy vira sadomasoquista

DAVID DREW ZINGG
EM LOS ANGELES

I ncêndios, enchentes, terremotos, tumultos de rua. Clubes de armas, alarmes de carros, gás paralisante. Gangues de traficantes de crack, O.J. Simpson, Heidi Fleiss.
Uma amiga minha aqui de Los Angeles me disse que, se pudesse recomeçar sua vida, ela se mudaria com a família toda para dentro de um cofre de banco.
É a era do medo em Los Angeles. As coisas por aqui estão em estado de constante mutação.
Considerem o caso daquele porta-voz do amor heterossexual de alta intensidade, Hugh Hefner, hoje envelhecido, gordo e tornando-se careca.
Para aqueles de vocês que são liberados demais para saberem quem é HH, tio Dave vai explicar. Ele é o sujeito que tirou os panos que cobriam as glândulas mamárias das mulheres, lançando um império editorial baseado numa revista de nome "Playboy".
Durante o processo, Hefner faturou uma grande pilha de verdinhas e, segundo ele próprio conta, levou para sua cama mais de mil mulheres (todas elas equipadas com seios extragrandes, do tamanho do monte Everest).
Como recompensa pelo trabalho que teve, Hefner também ganhou um infarto.
Outra coisa que fez foi se acomodar. Sua atual mulher peituda é, naturalmente, uma ex-garota Playboy chamada Kimberly Conrad. Ela presenteou o velho Chefe Playboy com dois filhos. Hoje, seus brinquedos se espalham pelos mesmos tapetes na mansão Playboy onde antes suas coelhinhas escassamente vestidas costumavam rolar, dando gritinhos.
Segundo me contam, estamos no ano de 1994. Muito tempo se passou desde 1954, quando a revista "Playboy" foi lançada.
Uma semana atrás a Mansão Playboy, aqui em Los Angeles, sediou uma festa que Hefner jamais teria podido imaginar, 40 anos atrás.
O ponto alto da festa eram "drag queens" e designers de moda. Eles vieram ajudar a levantar fundos para um projeto de combate à Aids de Los Angeles. E, enquanto o faziam, também redefiniram a coelhinha Playboy dos anos 90.
A nova coelhinha lembra mais uma fugitiva de uma fazenda de sexo sadomasoquista do que a versão mais antiga das coelhinhas Playboy, que lembravam a garota da casa ao lado.
Thierry Mugler apresentou uma "ciber-coelhinha" vestindo calcinha, sutiã e sapatos de salto plataforma, feitos de cacos de espelho. Mugler disse que a coelhinha da nova era está preparada para enviar um sinal sexual com seus pedacinhos de material refletor, se sua conexão Internet cair.
Hefner, hoje pai de família com 68 anos de idade, está apontando o caminho para o próximo milênio. Ele hoje defende muito mais amor como a cura para todos nossos males.
Mas menos sexo.
Nesta era de Aids, a mansão Playboy é um lugar muito mais sério do que foi no passado.
As antigas salas de orgias no primeiro andar ficaram vazias durante esta festa. Não se via sequer um casalzinho se beijando.
Surfar está na moda
Como todo mundo sabe, pode-se surfar a Internet e pode-se surfar em ondas de verdade. Este ano as ondas têm sido desastrosas na praia de Newport, em Los Angeles. Mas alguns surfistas espertos parecem ser capazes de pressentir uma onda boa em toda a extensão da costa pacífica.
Como eles fazem?
Eles conseguem graças a um windsurfista chamado Jim Martin, um sujeito que leva seu esporte a sério. Ele costumava passar horas ao telefone tentando descobrir onde as ondas estavam boas e onde havia vento.
Depois de passar meses pagando contas telefônicas de US$ 300 e, mesmo assim, perdendo as ondas chocantes e os ventos arrepiantes, ele calculou que devia haver uma maneira melhor.
E havia mesmo. Hoje em dia é a praia que liga para ele.
Martin lançou recentemente o serviço "Chamado do Vento", uma rede de 12 aparelhos automatizados de registro de ventos que monitoram as condições do mar desde Seal Beach até San Francisco. Os surfistas selecionam as praias sobre as quais querem obter informações e, quando o vento e o mar satisfazem suas exigências, o sistema transmite um sinal a seus "pagers", e eles sabem que podem sair para pegar ondas legais.
Os "pagers" mostram aos surfistas que assinam o sistema a velocidade dos ventos altos e baixos durante os últimos 20 minutos, a velocidade média, a direção do vento e a temperatura do ar.
Martin diz que sua conta telefônica caiu em US$ 250 no primeiro mês de funcionamento do sistema.
Ele começou a promover seu sistema alguns meses atrás. Hoje, mais de 275 windsurfistas pagam a taxa mensal de US$ 15 para serem assinantes, e dois a três novos usuários se registram por dia.
Depois de usarem o serviço por uma ou duas semanas, os usuários se viciam. Se seus "pagers" deixam de bipar por alguns dias, eles ligam para Martin para se queixarem de que o bip está quebrado.
Martin os manda relaxar, diz que é o vento que não está soprando e que eles estão apenas sofrendo sintomas de privação.
Cidade cruel
Aposto que vocês não sabem que aquela famosa placa no alto das colinas atrás de Los Angeles, dizendo "Hollywood", antigamente tinha 13 letras. Antigamente, a placa dizia "Hollywoodland". Não são incríveis as coisas que jornalistas espertinhos como tio Dave estão sabendo?
Por mero acaso, sei desta informação esotérica fundamental porque cedo na vida eu jurei a mim mesmo jamais imitar Peggy Entwhistles.
Peggy Entwhistles era uma das centenas de milhares de garotas caipiras, bonitinhas, porém inteiramente desprovidas de talento, que vieram de carona até a Cidade do Brilho, sonhando em se tornarem estrelas de cinema.
Se você hoje caminhar por certos quarteirões da Sunset Boulevard, será abordado pelas Peggy Entwhistles de hoje, as prostitutas adolescentes que também quiseram ser estrelas de cinema, mas não conseguiram chegar lá.
Mesmo que não consiga um papel de figurante num filme, uma garota do interior precisa comer, verdade? E drogas são um hábito caro para uma garota do interior e ainda por cima desempregada.
Peggy Entwhistles tinha um pouco mais orgulho próprio do que a garotada fora-da-lei de Sunset Boulevard, hoje. Ela subiu as colinas de Hollywood e, deprimida por não conseguir conquistar a fama com que sonhava, matou-se, pulando do alto da 13ª letra.
E foi assim que tio Dave descobriu que a placa antigamente dizia "Hollywoodland".
Perfume usado
Algum malandro paraguaio acaba de perder a grande chance de sua vida.
Um especialista em marketing da Gringolândia foi obrigado a jogar 200 mil vidros de perfume no lixo. Você vai entender quando eu te explicar que o perfume levava o nome de uma celebridade chamada Michael Jackson.
A grande época de Michael Jackson enquanto garoto-propaganda de produtos de primeira linha parece haver chegado ao fim. Isso não aconteceu apenas por ele ter sido obrigado a calar a boca de seu jovem amiguinho de farras com vários milhões de dólares, para que o garoto não prestasse depoimento e contasse tudo sobre os encontros noturnos dos dois.
O fato é que Michael Jackson está envelhecendo. Sua imagem de Peter Pan está ficando um pouco cansada e arranhada.
O cavalheiro que foi obrigado a jogar o perfume no lixo disse, em tom amargo, que Jackson nunca mais poderá voltar à Terra do Nunca.
Michael Jackson também perdeu o patrocínio da Pepsi. Nos bons velhos tempos, a Pepsi chegava a pagá-lo espantosos US$ 20 milhões por seu endosso do refrigerante. Agora, pais e crianças reagem mal à atração de uma recomendação feita por Jackson.
Numa tentativa de reconstruir sua imagem prejudicada, o cantor se casou com Lisa Marie Presley, filha de Elvis. Ele faz questão de ser visto com ela em público, mas resta ver se o casamento é pra valer ou se não passa de uma megafusão comercial.
Se você gosta de torcer por quem está por baixo, ou se ainda acredita em milagres, espere até dezembro.
Nesse mês, a Epic Records, da Sony, vai lançar "History: His Story". É uma coleção, em 30 faixas, dos maiores sucessos do Enluvado, com oito novas canções de brinde.
Espero que a sorte do pequeno milionário melhore.

Tradução de Clara Allain

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