São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 1994
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Acusado 'vende' bonés, cartões e até CDs

DAVID DREW ZINGG
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES

O lado de fora do tribunal que sedia o julgamento de O. J. Simpson está parecendo um acampamento de exército. O "Camp O. J". poderia estar no Haiti.
Como um exército de verdade, este acantonamento da mídia tem um grupo muito estranho de agregados, todos dispostos a faturar alguns trocados. A ordem do dia é o mau gosto –e mau gosto é sinônimo de bons negócios.
Isto aqui é a Gringolândia. Se existe alguém por aí suficientemente sórdido para vender uma coisa, haverá alguém sórdido o bastante para comprá-la.
É claro que não falo de você, Joãozinho, e sim de todas aquelas outras pessoas.
A calçada diante do Tribunal do Condado de Los Angeles parece o calçadão de Copacabana, repleto de camelôs. Os vendedores sedentos por dinheiro chegam às 5h da manhã para esperar por fregueses.
Os compradores também chegam cedo –uma multidão de repórteres, espectadores e defensores de causas variadas. Oradores enchem o ar de leituras bíblicas e discursos sobre os direitos das vítimas de violência doméstica.
Aqui você encontra à venda camisetas O. J., bonés de beisebol O. J., vídeos O. J. e cartões O. J.
O artigo de mais sucesso é um "button" vendido por um homem que diz ser ex-agente do serviço secreto. O button diz "Rejeitado para jurado de O. J.".
Me dê a sua mão e vamos ver o que existe à disposição dos amantes do sistema judiciário americano (lembre-se, só restam 87 dias para fazer as compras de Natal).
Por algo entre US$ 10 e US$ 20 (dependendo de quão bom é o camelô), você leva "In Pursuit of Justice" (em busca da Justiça), um conjunto de 50 cartões coloridos detalhando tudo sobre o caso O. J.
Você é avisado de que "parte dos lucros obtidos na venda destes cartões será doada para apoiar a prevenção da violência doméstica e fornecer abrigos a mulheres e crianças vítimas de violência".
Não está especificado o tamanho dessa "parte dos lucros", nem quem vai recebê-los.
Depois, há os cartões assinados por O. J. Como junkie O. J. fanático, você deve lembrar que Simpson tinha um contrato para assinar 2.500 cartões de futebol antes do recente incidente desagradável em que se envolveu. Sendo o cara simpático que é, nosso herói assinou e datou os cartões na cadeia.
A empresa que pagou O. J. para assiná-los insere um vale a esmo nos baralhos que vende. Se você tiver a sorte de ganhar um, está rico. Um cartão O. J. assinado e datado por ele vale até US$ 1 mil.
A TV também faz tudo por uma verdinha. A Turner Broadcasting lançou "The People vs. O. J. Simpson: An Interactive Companion to the O. J. Simpson Trial " (o povo versus O. J. Simpson: um guia interativo para o julgamento). É um CD-ROM, por menos de US$ 20, em versões para computadores IBM e Macintosh. Seja o primeiro da sua turma a ter essa novidade.
Heidi
Desta vez Heidi Fleiss foi um pouquinho longe demais. Ontem eu contei como ela deu mancada em Tio Dave, não aparecendo no tribunal, conforme estava previsto.
Em vez disso, Heidi, uma Jennifer de 28 anos acusada de ser a "madame de Hollywood" e também –juntamente com seu querido e velho pai– de ter sonegado ao Tesouro da Gringolândia muito dinheiro mal ganho, desapareceu.
Mas o Velho Repórter Dave, que nunca desiste de uma pista, descobriu o endereço, o estabelecimento para reabilitação de drogados Impact, em Pasadena.
Fica a poucos quarteirões de sua loja de lingerie, a "Heidi Wear". É pouco provável que Heidi venha a ter tempo ou liberdade para supervisionar sua linha de produção. O Impact é uma operação rígida.
Uma vez que a cliente inicia seu programa de desintoxicação, que pode durar entre um e seis meses, ela só pode se comunicar com familiares ou amigos por carta.
Para decepção de Tio Dave, Heidi levará pelo menos um mês para conquistar o direito a dar ou receber telefonemas e o privilégio de sair de lá nos fins-de-semana. Quem sabe da próxima vez.
Mas há um jeito de me encontrar com ela. Se eu conseguisse incluir meu nome na lista dos candidatos a jurados de O.J. Simpson, e fosse rejeitado, ainda teria uma chance. O tribunal disse ontem que as pessoas liberadas do caso Simpson podem ainda ser escolhidas para o caso da srta. Fleiss.

Tradução de Clara Allain

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