São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 1994
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Naufrágio de balsa na Finlândia mata 823

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Oitocentas e vinte e três pessoas podem ter morrido no pior naufrágio da Europa desde a Segunda Guerra. A balsa Estonia afundou na madrugada de anteontem na costa da Finlândia com 964 pessoas a bordo. Foram encontrados 141 sobreviventes e 42 corpos.
Até a interrupção das buscas, no início da noite de ontem, 781 pessoas ainda estavam desaparecidas com praticamente nenhuma chance de terem sobrevivido na água a menos de 10ºC do mar Báltico.
"Pelo monitor de TV na sala das máquinas nós vimos a água entrando no convés dos carros. Acho que o mar pesado de alguma forma arrebentou a entrada do convés dos carros", disse Henri Sillaste, um dos tripulantes.
A água desequilibrou o barco que, em poucos minutos, virou.
A Estonia era uma balsa para transporte de passageiros e carros que fazia a linha Tallinn, na Estônia, a Estocolmo, na Suécia. O barco, fabricado na Alemanha em 1980, tinha capacidade para 2.000 passageiros e 460 carros.
No momento do naufrágio a balsa carregava 522 suecos, 340 estonianos, além de passageiros da Noruega, Letônia, Lituânia, Rússia, Reino Unido e Nigéria. O barco enfrentava mar pesado e ventos de 90 km/h no mar Báltico.
À 1h24 local de ontem (8h24 de Brasília) o Estonia enviou uma chamada de emergência. Segundo porta-voz do porto de Tallinn, o motor principal do barco havia parado e a balsa enfrentava ondas de sete a dez metros de altura. O porta-voz disse que, sem os motores, "a tempestade pode ter feito qualquer coisa com o barco".
Andres Berg, vice-diretor da Nordstrom e Thulin AB, companhia sueca co-proprietária da balsa, disse que isso não seria causa suficiente. "Ela deveria ser capaz de derivar sem motores mesmo em mar muito pesado", disse.
O tripulante Sillaste havia dito à agência sueca ITT que uma das portas de embarque de automóveis não fora fechada corretamente.
Anteontem, antes do Estonia partir, dois inspetores suecos notificaram que a borracha que veda as portas do barco "não pareciam bem". Segundo Ake Sjoblom, um dos inspetores, o estado da vedação "não era suficientemente ruim para reter o barco" nem para causar o acidente. Segundo ele, o barco era bastante bem conservado.
Uma outra hipótese aventada foi a de que os automóveis dentro da balsa tenham sido deslocados pelas ondas desequilibrando o navio.
Grande parte do passageiros estava dormindo no momento do acidente. Neste tipo de barco vendem-se bebidas alcoólicas sem imposto e na Suécia as linhas que eles fazem são conhecidas como "linhas do porre".
Muitos dos passageiros estavam sem condições de reagir, segundo Raio Tiilikainen, da Guarda Costeira Finlandesa que chefiou a operação de resgate.
Pelo menos 18 helicópteros da Finlândia, Suécia e Dinamarca, um avião e mais de 10 barcos participaram da operação de resgate.
As equipes avistaram vários botes salva-vidas mas a maioria estava virada pelo mar tempestuoso.
Os sobreviventes encontrados foram levados para hospitais finlandeses e suecos com ferimentos e hipotermia.
Em contato com a água o corpo esfria mais rapidamente do que no ar à mesma temperatura. A queda de temperatura do corpo causa a fibrilação, que é a contração descoordenada das fibras musculares do coração levando à morte.

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