São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 1994
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Dados sobre a idade do Universo questionam teoria do "big bang"

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma bomba está explodindo hoje entre os astrônomos que acreditam que o Universo começou com uma explosão, o "big bang".
Novas medidas da distância de estrelas no aglomerado de galáxias Virgo (Virgem), e do ritmo de expansão do Universo, indicam que ele poderia ser bem mais novo que o imaginado, algo como 9 bilhões de anos, ao invés de 15 bilhões, como no "big bang" tradicional.
Isso também entra em conflito com as estimativas das idades das estrelas mais antigas.
O artigo da equipe de Michael Pierce e colegas aparece na edição de hoje da revista científica "Nature". O editor da revista, John Maddox, estava ontem em São Paulo e disse que o anúncio da nova constante de Hubble é um golpe forte da teoria do "big bang", cujas inconsistências ele tem insistido em apontar ao longo dos anos.
Segundo o "big bang", a matéria do Universo foi criada em um único instante, a partir de um único "ponto espacial", o marco inicial da contagem do tempo e que teria começado o processo de expansão.
Ironicamente, o mesmo homem que cunhou o termo "big bang" –o astrônomo Fred Hoyle– foi um dos que propuseram a teoria rival, a do estado contínuo.
Ele sugeriu em 1948 que o Universo não teria início ou fim e a matéria seria constantemente criada. Mais recentemente, Hoyle propôs a teoria do estado quase contínuo, em que a matéria é criada não de forma regular, mas através de várias explosões menores.
O ritmo de expansão do Universo se reflete na chamada constante de Hubble (homenagem ao astrônomo Edwin Hubble, que está para a cosmologia assim como Albert Einstein para a física).
Trata-se de um índice matemático que permite inferir a idade do universo.
Seja qual for o valor da constante, a força da gravidade contribui para desacelerar a expansão do Universo. Se o Universo é mais denso, contendo mais matéria, sua expansão é mais lenta, como uma pessoa mais gorda tendo de correr.
A expansão foi certamente mais rápida no passado e tende a ficar mais lenta. Isto é, quanto maior o papel da gravidade, menor a idade do universo.
A nova estimativa dá o valor da constante como sendo 87 km por segundo por megaparsec (um megaparsec é a distância que a luz viaja em 3,2 milhões de anos, na sua velocidade de 300 mil km por segundo). Estimativas costumavam variar de 40 km a 100 km por segundo por megaparsec.
Para chegar ao valor da constante, é preciso medir velocidades e distâncias estelares.
A velocidade é mais simples de descobrir estudando a luz das estrelas. Do mesmo modo que o apito de um trem é ouvido de modo diferente à medida que se afasta ou se aproxima, a luz tende a se desviar para o lado vermelho do espectro, e isso pode ser visto com telescópios.
O dado mais difícil de se obter é a distância. Boas indicadoras de distância são estrelas variáveis, cujo brilho varia em períodos regulares. Mas para saber a expansão em larga escala do Universo é preciso estudar estrelas muito distantes, o que é tecnicamente difícil.
Acreditava-se que só com o telescópio Hubble se poderia fazer medidas de estrelas variáveis no distante aglomerado de Virgem.
Mas seis astrônomos trabalhando no telescópio Franco-Canadense do Havaí conseguiram uma medição precisa, graças a noites límpidas na região e a equipamento que media a luz e corrigia problemas por computador.
Outros astrônomos estão usando o telescópio espacial Hubble para também chegar a um valor preciso para a constante. Se chegarem a um valor parecido, a teoria do "big bang" vai ter que ser recauchutada.

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