São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 1994 |
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Urna sem boca O Congresso Nacional decidiu proscrever destas eleições a chamada boca-de-urna, o esforço final de militantes e contratados para tentar conquistar mais alguns votos com a distribuição de santinhos, alguma conversa e muito carnaval. É inegável que, por vezes, o irrefreável assédio de militantes pode tornar-se um espetáculo bastante desagradável, deprimente até. Não se pode tampouco deixar de observar que esse fenômeno ocorre no Brasil devido à excrescência que é a instituição do voto obrigatório aliada à falta de cultura política da população, que muitas vezes vai às urnas sem ter ainda escolhido seus candidatos. É evidente que não se vai resolver o problema da falta de cultura política simplesmente banindo a boca-de-urna. E essa proibição torna-se mais grave quando se considera que ela configura um claro atentado à liberdade de expressão, princípio essencial de qualquer sociedade que se pretenda democrática. De resto, existem preocupantes informações de que alguns juízes já chegaram a requisitar estádios para deter todos aqueles que forem apanhados fazendo campanha. Encher estádios de militantes eventualmente privando-os até mesmo do direito de votar é, evidentemente, uma medida que em nada contribui para o aperfeiçoamento da cultura política nacional. A democracia brasileira ainda é jovem. Há muito o que aprender. Uma das lições ainda não assimiladas é aquela que ensina que uma sociedade pluralista e democrática não se constrói com decretos e regulamentações, mas sim com respeito, tolerância e capacidade de aprender. E também –por que não?– um pouco de festa. Texto Anterior: Choque X gradualismo Próximo Texto: Entre tapas e beijos Índice |
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