São Paulo, quinta-feira, 29 de setembro de 1994
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OS MELHORES MOMENTOS

Jorge Nishimura: "Hoje existe uma mentalidade voltada para a racionalização de custos. Quem viajava de primeira classe hoje viaja em executiva ou econômica. A mesma coisa acontece com os hotéis. Ao invés de hotéis cinco estrelas, prefere-se um flat ou um hotel mais barato.
Sobre a situação da qualidade e preço no Brasil, acho que, com exceções, a qualidade é baixa e normalmente se paga um preço alto pela qualidade que se oferece.
Entre os motivos para essa baixa qualidade está, em primeiro lugar, a falta de priorização do governo em considerar a atividade turística como fator econômico importante.
Um outro fator é a crise econômica brasileira. Ela acarretou a falta de investimentos na hotelaria. Isso fez com que não se estimulasse uma concorrência entre os hotéis para melhorar a qualidade.
Os hotéis são administrados em geral de uma forma caseira, familiar e pouco profissional. Isso provoca falta de qualidade.
A imagem que o Brasil tem no exterior é só a da violência. Isso causou a diminuição do mercado das pessoas que vêm ao Brasil.
No Rio de Janeiro, essa queda fez com que a concorrência entre hotéis se acirrasse. As tarifas foram reduzidas, mas perdeu-se em qualidade porque não houve condições de se investir nos hotéis.
A diária média dos hotéis cinco estrelas do Rio em 94 está em torno de US$ 70, com uma ocupação de cerca de 60%.
Em comparação, a diária do Caesar Park Ipanema está na faixa de US$ 177. Apesar da diária média mais alta, o hotel está com ocupação de 62%. Ou seja, o valor da diária não se reflete diretamente na ocupação média. Existe um mercado que exige qualidade.
Os hotéis ligados ao segmento dos executivos sentem com muita antecedência o que vai acontecer na economia. Nos últimos dois anos, o faturamento do Caesar Park de São Paulo cresceu cerca de 15%. Isso antecipa o que vai acontecer nos próximos anos.
Quanto às tendências, eu acredito em um desenvolvimento grande do turismo no Nordeste. Creio no crescimento do ecoturismo na Amazônia e no Pantanal e vejo também um potencial muito grande para os hotéis três estrelas."
Roland De Bonadona: "O conceito de qualidade na hotelaria é um pouco diferente do da área de produção, porque a hotelaria é uma prestadora de serviços.
Entre os componentes da qualidade encontrados na hotelaria estão os equipamentos, as relações entre funcionários e clientes, a agilidade no atendimento e, mais difícil de avaliar, o ambiente do hotel.
Uma vez determinado o produto e para quem o hotel vai se dedicar, é preciso preparar o quadro de pessoal. A chave é o treinamento. O Brasil tem poucos recursos para qualificar funcionários. Temos um grupo que criou sua própria academia de treinamento.
A maneira de conseguir qualidade a um preço competitivo é usar os recursos que há em matéria de produtividade. Ou seja, ter a mesma qualidade de serviço com menos funcionários e menos níveis hierárquicos.
No Brasil, o preço das diárias é baixo. O Rio de Janeiro tem preços médios; São Paulo, diárias similares às do exterior. O Nordeste hoje tem preços muito baixos, comparáveis aos de países turisticamente sinistrados, como o Egito.
Há 150 mil quartos de hotéis no Brasil, entre três a cinco estrelas e flats. Cerca de 10% pertencem às redes hoteleiras. O resto é composto de hotéis independentes. É um mercado atomizado e competitivo.
Sobre perspectivas, creio que a hotelaria já saiu do fundo do poço. O Plano Real faz com que as empresas recebam em moeda forte. De seis meses para cá temos notado uma elevação nas taxas de ocupação em São Paulo e no Sul.
Outro fator é a conscientização dos governos estaduais e federal em dar importância estratégica ao turismo. Alguns Estados saíram na frente, como a Bahia e o Ceará.
As poucas redes de hotéis no Brasil estão concentradas no mercado dos cinco estrelas. Falta segmentação clara nos mercados de três e quatro estrelas.
As franquias podem ser desenvolvidas, com a chegada das redes internacionais. A estruturação de uma classe média com maior poder aquisitivo vai favorecer o surgimento de hotéis econômicos.
Enquanto aqui há um quarto de hotel para cada mil habitantes, essa proporção na Argentina é de um para 500. Isso mostra um potencial de crescimento muito forte."
Jean Morgues: "Quando se fala de qualidade dentro do Club Med sempre me lembro de uma expressão da British Caledonian que diz: 'Nunca nos esquecemos de que vocês têm escolha'. Jamais o Club esquece que o cliente tem escolha.
Há dois tipos de qualidade. A qualidade material e a qualidade com o pessoal, que é o ponto mais importante para nós.
O ambiente é preponderante. As nossas preocupações vão das flores e das cores de um salão às filas de 'check-out', para ficar seguro que essa fila não vai atrapalhar todo o trabalho que desenvolvemos em uma semana. Essa preocupação é para fazer com que todas as pessoas realmente descansem e esqueçam das atividades do dia-a-dia.
Uma das formas de aprimoramento da qualidade é observar o que acontece com os concorrentes. Outra é a pesquisa. Desde 1956, o Club Med realiza pesquisas semanais em âmbito mundial.
A qualidade do pessoal um ponto-chave. Essa é a razão para selecionarmos gente com conhecimento de línguas, negócios e organização. É isso que faz a reputação do Club Med.
Sobre a questão dos preços, o Club Med do Brasil é uma coisa excepcional dentro da nossa companhia. Ele tem os preços mais altos do mundo para o réveillon e tem também os preços mais baixos do mundo em meses como agosto, setembro e outubro.
Há um problema de mercado. O segmento que se interessa e pode passar férias no Club Med necessita crescer para nós funcionarmos com um preço mais equilibrado.
Falamos para um número relativamente restrito de pessoas no Brasil e isso dificulta o nosso funcionamento. É preciso um pouco de paciência para formar no país uma parcela significativa de consumidores de hotéis de lazer.
A tendência mundial de criar faixas de preços competitivos se reflete também no Club Med. Nosso grupo possui a rede Aquarius, com 15 hotéis de lazer, exatamente como o Club Med, mas com preços cerca de 30% abaixo do padrão. No último ano, essa cadeia aumentou suas vendas em 45%."

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