São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 1994
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Competição dá credibilidade a pesquisas

ANTONIO MANUEL TEIXEIRA MENDES
DIRETOR-EXECUTIVO DO DATAFOLHA

Todos os institutos de pesquisa que fazem levantamentos cobrindo amplamente o território brasileiro têm mostrado as mesmas tendências de voto ao longo de toda a campanha eleitoral. Por exemplo, que a campanha presidencial polarizou-se, desde muito cedo, em apenas duas candidaturas, Lula (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Isto todo mundo sabe, por quê? Pelas pesquisas. As mesmas pesquisas apontam hoje uma vantagem a favor de FHC superior à soma de todos os demais candidatos, e de mais de 20 pontos à frente do segundo colocado.
A produção de pesquisa para divulgação na grande imprensa, em contraposição às pesquisas para fins privados de partidos ou candidatos, permite ao eleitor maior conhecimento da disputa eleitoral e oferece aos partidos e candidatos um contraponto às pesquisas encomendadas por eles e não publicadas. A divulgação contínua dos resultados das prévias possibilita ao eleitor avaliar o desempenho dos candidatos e orientar melhor a sua escolha.
A comparação entre os resultados apurados pelos institutos é também um fator a mais de esclarecimento do eleitor, ao mesmo tempo que a competição entre os institutos dificulta eventuais tentativas de manipulação e, neste sentido, transforma a busca da credibilidade pública num objetivo básico para cada um.
O fato é que hoje, no Brasil, todas as pessoas engajadas na direção de campanhas eleitorais acreditam em pesquisa. Ninguém se sente muito confortável em elaborar planos de campanha sem contar com a avaliação sistemática fornecida pelas pesquisas quantitativas –feitas por amostragens e questionários– e pelas qualitativas, sobretudo aquelas baseadas nas técnicas de discussão de grupo.
Ou seja, as pesquisas de intenção de voto orientam o eleitor e orientam as campanhas. Neste caso, as pesquisas podem ser invocadas diferentemente pelos estrategistas de campanha, ou para exibir o sucesso de uma candidatura, ou para suspeitar da seriedade de seus resultados.
É bem verdade que uma pesquisa pode estar errada. Sua própria metodologia prevê que resultados além da margem de erro podem ocorrer com uma probabilidade pequena, mas não desprezível (em geral em torno de 5%).
Daí o interesse de cada instituto em realizar com independência seus levantamentos, e a importância da concorrência como controle de qualidade e fidedignidade dos resultados. Qualquer suspeita, da parte de candidatos ou partidos em desvantagem, de que possa haver conluio entre os institutos, uma orquestração para manipular dados a favor de uma candidatura, fica fora de cogitação quando se compreende que a competição, neste caso, é a garantia de seriedade do produto e de sobrevivência dos melhores.
Ora, é com a pesquisa eleitoral que os partidos exercitam a mensuração de fatos políticos prejudiciais ou benéficos às candidaturas. O que não altera as taxas de intenção de voto é esquecido, o que move é repisado.
Quando as curvas de intenção de voto se mantêm estáveis por algum tempo, dirigentes e analistas ficam ávidos em detectar eventos que possam alterar as tendências do momento.
Criar fatos que possam reverter tendências faz parte do cotidiano dos estrategistas de campanha. Contestar a legitimidade do processo eleitoral, bem como atacar a idoneidade das pesquisas de intenção de voto, são ações que obedecem a uma mesma lógica de campanha. Com certeza, o Partido dos Trabalhadores estará fazendo pesquisas para medir a eficácia eleitoral de seus ataques e, se tiver números de intenção de voto diferentes, que os divulgue.

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