São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 1994 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Por que Lula vence
GILBERTO DIMENSTEIN BRASÍLIA – A pesquisa Datafolha publicada ontem, somada aos últimos fatos da campanha, indica que dificilmente Lula vai para o segundo turno. Mas é injusto considerá-lo derrotado. Na sua despedida da sucessão, ele está mostrando seu lado grandioso –a derrota e a crise são os melhores testes de caráter. Fácil é demonstrar altivez e cabeça fria no sucesso.Situação dura para Lula encarar mais uma derrota –ele que, até poucos meses, sentia-se eleito e via empresários adulá-lo como futuro presidente. Sem demonstrar ressentimento, ele acena para FHC, dispondo-se a conversar em nome dos interesses nacionais: pode-se fazer oposição às idéias ou programas. Não contra o país. É assim mesmo que deve agir um homem público: dialogar e, desde que não fira sua consciência e princípios, ajudar. A vitória moral de Lula não está apenas aí. Boa parte da agenda desta campanha é a sua agenda, baseada na prioridade aos excluídos. Errou por não saber defendê-la tão bem como FHC que, em essência, apresentou-se como uma espécie de "Lula melhorado". A democracia brasileira tem uma dívida com Lula. Num país marcado pelo apartheid social, desenhado desde os tempos coloniais por uma elite estúpida e insensível, é uma lição de cidadania um ex-operário disputar a Presidência. Sintomático que dele viesse a bandeira: "Nenhuma criança fora da escola". O país mudou –e mudou para muito melhor. Há exatos dez anos, a disputa era entre Maluf e Andreazza, investindo em favores pessoais a convencionais do então PDS. E, ambos, reverenciando a estrutura militar, liderada por um presidente sem postura que, numa entrevista, fez o gesto da "banana" e pediu que se esquecessem dele. É possível discutir as vantagens e desvantagens de Lula e FHC, analisando suas alianças ou deficiências pessoais. Não falta material. Mas os indivíduos com um mínimo de serenidade deveriam perceber: é um privilégio ter na dianteira da disputa presidencial dois candidatos com tão rica biografia. Nenhuma delas fabricada artificialmente, mas na resistência democrática. Texto Anterior: COBRANÇA; DEFINIÇÃO; NADA À VISTA; QUEM É BOM?; MEIO DE VIDA Próximo Texto: Mais beijos do que tapas Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |