São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 1994 |
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Mais beijos do que tapas
CLÓVIS ROSSI SÃO PAULO – Piadinha mais recente que circula no mundo político: "Sabe qual seria o resultado de um cruzamento genético entre o Lula e o Amin? O Enéas".Admito que é meio sem graça, mas a graça está em que a reproduz: Luiz Inácio Lula da Silva. É raro que um candidato presidencial que as pesquisas dizem estar na iminência de uma segunda derrota eleitoral consecutiva tenha ânimo para contar piadas, ainda mais piada em que é um dos personagens. Esse detalhe diz muito a respeito do estado de ânimo de Lula na antevéspera da eleição: continua tão de bem com a vida como estava, por exemplo, quando o acompanhei em viagem à África do Sul e à Alemanha, em maio, quando liderava as pesquisas. É eloquente que Lula, seja nos bate-papos informais como na entrevista gravada (parte da qual está no caderno Supereleição), não tenha posto acidez alguma nas críticas a Fernando Henrique Cardoso. Bem ao contrário do que aconteceu em alguns momentos (poucos, é verdade) da campanha eleitoral. Lula diz que quer manter a amizade "de 16 anos" que tem com Fernando Henrique. Até aí, não chega a ser notícia. Há políticos separados por fossos bem mais profundos que convivem harmonicamente. O importante é que Lula quer também manter "relações políticas" com o que é hoje seu principal adversário. Aí, a coisa muda de qualidade. Já faz algum tempo, primeiro nesta mesma página, que a Folha vem anunciando a disposição do PSDB de ter Lula como companheiro de viagem, se de fato chegar ao governo. Da última semana para cá, os acenos do PSDB se tornaram menos sutis e ganharam as páginas de noticiário puro e duro. Ainda anteontem, na entrevista aos correspondentes estrangeiros, FHC disse que defendera, junto a d. Luciano Mendes de Almeida, presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), um "diálogo permanente" com Lula. E queixou-se de que "a reação não fora positiva". Pois bem, agora, a reação (positiva) está nas páginas desta Folha. O namoro pode até não terminar em casamento, mas a eleição com certeza não terminará em ódio. Texto Anterior: Por que Lula vence Próximo Texto: A democracia e o leiteiro Índice |
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