São Paulo, domingo, 1 de janeiro de 1995
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Os verdadeiros desafios

JOEL MENDES RENNÓ

Para vencer a batalha do petróleo, vencemos a batalha da ciência e da tecnologia
Ultimamente os temas petróleo e Petrobrás têm merecido maior atenção dos meios de comunicação e muitos são induzidos a crer que greves e demais fatos noticiados sobre a estatal constituem pontos de interesse prioritário. No entanto, vale considerar outros aspectos, estes sim muito importantes, os quais, embora não apresentem o mesmo potencial jornalístico de assuntos polêmicos, constituem na verdade as bases para a elaboração de um projeto nacional.
A Petrobrás pode e deve ser vista sob vários ângulos, cabendo à sociedade cobrar-lhe transparência, resultados e, sem dúvida, eficiência e modernidade no desempenho.
No entanto, o pensamento criativo deve buscar os fundamentos de cada questão e estabelecer parâmetros de debate para que possa questionar e eventualmente alterar paradigmas existentes.
Considere-se, por exemplo, alguns resultados da Petrobrás e a projeção de suas perspectivas, o que permitirá confrontar um quadro estrutural de otimismo realista, de expressiva participação no desenvolvimento nacional, com o quadro negro pintado sobre movimentos e problemas episódicos, triste exceção numa conduta altamente positiva.
Os campos da desinformação sempre enfrentam ervas daninhas e resultam em colheitas contaminadas. Assim, procura-se anular esforços e conquistas, na tentativa de impedir que a nação sequer ouse buscar seu destino de grande potência. Queremos distância desses terrenos insalubres e inférteis.
O país vem se destacando no setor do petróleo nesses 41 anos de existência da Petrobrás. E o que abona e assegura essa afirmação?
Em primeiro lugar, a sociedade teve sempre à sua disposição produtos petrolíferos na porta das refinarias nacionais, na quantidade demandada e em todos os pontos do território brasileiro, mesmo nos mais escondidos rincões, graças a um eficiente sistema de transporte e de bases de suprimento estrategicamente construídas. Trata-se de inegável conquista, considerando a dimensão continental do país. Esses produtos nunca faltaram no mercado interno, embora o povo brasileiro já tenha sofrido o desabastecimento de muitos outros produtos que consome.
Em segundo lugar, a Petrobrás, graças à escala alcançada no negócio petrolífero e sua eficiência em todas as fases do setor, vendeu e vende seus produtos na porta de suas refinarias por preço abaixo dos internacionais. Hoje, cerca de 20% inferiores. Ao comercializar tais produtos com essa redução de preço, transfere para a sociedade um ganho de cerca de US$ 2 bilhões ao ano. Melhor ainda, graças à performance tecnológica e operacional na produção de petróleo, a estatal continuará sustentando, sem limitação de prazo, o padrão de preços inferiores, e assim repassando ao país ganhos crescentes. Este é um fato da maior importância, que vale nos dias de hoje e para o futuro.
Em terceiro lugar, o povo brasileiro pode estar seguro e tranquilo quanto ao seu futuro energético relacionado com o petróleo. Enquanto a grande maioria das empresas privadas estrangeiras dispõe de 46 bilhões de barris de petróleo em reservas, tendo um horizonte de produção de 11 anos –por isso se vendo obrigadas a novas conquistas na faixa de 4 bilhões de barris por ano– o Brasil caminha para delimitar seus 10 bilhões de barris de petróleo e gás equivalentes, já descobertos, que nos garantem 32 anos de produção aos níveis atuais.
A melhor notícia, porém, consiste em saber que a Petrobrás já identificou o filão do ouro negro nacional. Anualmente, graças a sua tecnologia, incorpora grandes reservas. E caminha com segurança para buscar outros 20 bilhões de barris que se espera estejam reservados pela geologia nas profundezas do solo brasileiro, principalmente na plataforma submarina.
Tal é o significado desses números que o Brasil foi, nos últimos dez anos, o segundo país a realizar maiores descobertas de petróleo, somente superado pela Venezuela. Essas descobertas totalizam 7,6 bilhões de barris, no decênio.
Há mais ainda: a Petrobrás vem aumentando a produção de petróleo segundo uma taxa três vezes superior à da demanda, após a crise de 1979. E poderá continuar a fazê-lo nos anos vindouros, pois desenvolveu tecnologia de Primeiro Mundo na área e todos os campos disponíveis contam com projetos de magnitude em andamento.
Em quarto lugar, para vencer a batalha do petróleo, vencemos a batalha da ciência e da tecnologia nesse segmento. A natureza nos destinou petróleo nas profundezas do mar, originado há milhões de anos nos lagos existentes entre os continentes africano e brasileiro. E, desde o primeiro instante que o preço do petróleo permitiu, a Petrobrás o buscou na fronteira marítima, tornando-se líder nessa área a partir da década de 70.
É nesse ponto, então, que vemos altear-se o papel da Petrobrás na grande batalha deste fim de século e nas próximas décadas. Ajudar o Brasil a ser vitorioso nos complexos desafios e nas sedutoras perspectivas da ciência e da tecnologia.
Agora, todos nós percebemos com mais clareza que o sucesso do Brasil na inserção internacional depende, principalmente de dois fatores: o estímulo firme às empresas nacionais e o desenvolvimento científico-tecnológico.
Nesse contexto, a Petrobrás pode, sem dúvida, contribuir de forma positiva. Isso graças à sua escala, ao seu centro de pesquisas –que já investe de US$ 160 a US$ 180 milhões por ano em tecnologia– e fundamentalmente graças ao fato de ser um laboratório real onde interagem e convivem praticamente todas as tecnologias existentes no mundo.
Entendendo, assim, a importância para o país do desenvolvimento científico e tecnológico, a Petrobrás esboçou, no seu plano estratégico, o projeto Centros de Excelência, os quais vêm permitindo integrar, com as universidades e indústrias brasileiras, o seu esforço próprio de desenvolvimento tecnológico.
Nesse sentido, milhares de profissionais, dentro e fora da empresa, buscam a excelência na produção de petróleo em águas profundas, no refino, na recuperação de petróleo em suas rochas, na geoquímica, nos transportes, na gestão pela qualidade total, no planejamento estratégico e energético e em muitos outros campos.
O que se pretende é identificar todos os segmentos em que a Petrobrás possa estimular um desenvolvimento tecnológico maior ainda do que o alcançado. E, de forma conjunta –universidades, indústria privada e estatal– criar uma sólida capacitação científica e tecnológica, conferindo ao Brasil maior competitividade na exportação de produtos, bens e serviços e valorização do conteúdo desses mesmos itens no contexto interno.
Por esse caminho, e se o movimento qualitativo for seguido por todas as grandes empresas brasileiras, será superado um dos maiores desafios para todos nós, que temos a mística do progresso: vencer em ciência e tecnologia.
E para melhor aproveitar todo o potencial colocado diante de nós, a Petrobrás também decidiu aprimorar e incrementar seu programa de parcerias societárias nas áreas abrangidas pelo monopólio estatal do petróleo. Idem em relação às suas parcerias operacionais, tanto na área do monopólio ("leasing" de plataformas, ampliação de terceirização em trabalhos complementares como perfuração, sísmica e apoios industriais) quanto nas áreas não cobertas pelo monopólio, mas umbelicalmente a ele ligadas, como o suprimento de utilidades, as plantas industriais produtoras de vapor, de energia elétrica, de gases industriais, armazenamentos de derivados etc.
Algo como US$ 10 bilhões em projetos estão em análise para efetivação de parcerias nas áreas de refinarias, de transporte, de construção de navios, de oleodutos e gasodutos, de armazenamento. Dezenas de parceiros nacionais e internacionais discutem hoje com a Petrobrás a sua participação nessa façanha, que será a construção de um Brasil potência dentro do novo projeto nacional.
Desse modo, a Petrobrás busca espaços em que possa contribuir para o desenvolvimento nacional, deixando de lado o pessimismo e a valorização artificial de problemas conjunturais. Estes, por certo, devem ser sempre objeto de atenção, investigação, análise e soluções, mas nunca motivo de estéreis tentativas de destruição de uma conquista nacional irreversível.

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