São Paulo, segunda-feira, 2 de janeiro de 1995
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Plano mantém a rota mas muda intensidade

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

A política econômica do dia-a-dia do governo FHC tem como regra básica manter a administração do Plano Real exatamente nas mesmas bases aplicadas até aqui. As variações serão de intensidade, não de conteúdo. São as seguintes perspectivas:
Inflação - O objetivo da equipe econômica é terminar 1995 com inflação de 20% no ano, o que dá uma média de 1,5% ao mês.
Essa meta não é colocada explicitamente, mas vários sinais indicam que a equipe trabalha com ela em mente. A Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) é um exemplo: foi fixada em 26% ao ano. Para ser taxa real, a inflação tem que ser menor que isso.
Nos três primeiros meses de 95, há grande chance de se obter taxas mensais de 1,5%. A demanda é menor, os preços de alimentos estão caindo e o impacto dos importados deve ser mais forte.
Para abril e maio, a equipe conta com elevação da inflação, por conta de vários fatores: início da entressafra agrícola, com nova alta de alimentos, pressão de aumentos salariais com dissídios de várias categorias importantes e elevação das mensalidades escolares.
Mas a perspectiva da equipe é que essa alta da inflação será menor do que a verificada em outubro e novembro últimos, quando as taxas passaram de 3% mensais.
Depois, no terceiro trimestre, nova queda, e aí com taxas abaixo do 1,5% mensal.
E assim fica a trajetória prevista: a inflação vai oscilar mensalmente, mas os picos serão cada vez menores e os vales, mais fundos, convergindo, no final do ano, para 1% mensal.
Juros - Declinantes na medida em que cai a inflação. Mas altos o suficiente para impedir aquecimento exagerado da economia e para impedir que investidores saiam das aplicações financeiras para ativos reais (dólar, ouro, imóveis, carros etc).
Isso seria explosivamente inflacionário. Assim, os juros terão que continuar atraentes.
Câmbio - Não há nenhum sinal até aqui de que a equipe pretenda atender às reivindicações de exportadores e industriais por uma rápida valorização do dólar (ou desvalorização do real).
Ao contrário, todos os sinais emitidos pela equipe econômica sugerem que a política cambial será mantida. A perspectiva é a de que a cotação do dólar suba ao longo de 1995, mas a um ritmo abaixo da inflação.
Se a cotação do dólar chegar a R$ 1,00 no final deste ano, terá havido uma valorização de 17,6% em relação à cotação comercial de hoje, R$ 0,85. E é improvável que a inflação do ano seja menor que 17,6%.
Ou seja, mesmo que o dólar chegue a R$ 1,00, o real continuará valorizado. E esse será o mais poderoso instrumento para contenção de preços.
Não é certo que o dólar chegue a R$ 1,00 no final do ano. Importantes membros da equipe econômica dizem que o primeiro esforço do Banco Central, em 1995, será impedir queda maior do dólar.
Isso porque haveria tendência de mais entrada de dólares na economia brasileira. O Brasil, mantendo sua estabilidade e iniciadas as reformas do setor público, seria ainda mais atraente para os investidores estrangeiros.
E quanto mais gente querendo trocar dólares por reais para investí-los aqui, maior a tendência de queda do dólar.
Por isso, o Banco Central acredita que, em 1995, terá que aplicar medidas de controle à entrada de dólares.

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