São Paulo, terça-feira, 3 de janeiro de 1995 |
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FHC já tem redigida a emenda para sua reeleição
CLÓVIS ROSSI
Seu autor é o deputado José Bezerra Mendonça Filho (PFL-PE), suficientemente distante do presidente para que pareça apenas mais uma emenda constitucional entre as muitas que o próprio governo deverá propor. A euforia e a animação contagiaram não apenas a nova equipe governante, mas uma substancial parcela do mundo político. Enstusiasmo Depois do discurso de posse, então, o entusiasmo transbordava pelas galerias do Congresso Nacional nas quais se alojaram os ministros de FHC. "Foi um belo discurso", exultava, por exemplo, Francisco Weffort, recém ex-petista, carregando na palavra "belo". Motivos para o entusiasmo existem e muitos são até óbvios (veja quadro nesta página). Sombras Mas há, igualmente, algumas sombras a pontuar o início da gestão. Vista pelos amigos do presidente, tanto os que foram para o governo como pelos que preferiram ficar de fora, a primeira delas é o precário estado da máquina pública. Essa queixa das novas autoridades e seus aliados é comum, em todas as conversas ouvidas pela Folha. Mas há, igualmente, dúvidas quanto ao efetivo apoio político de que o novo governo gozará no Congresso. Ontem, depois da posse do novo chanceler, Luiz Felipe Lampreia, o senador Pedro Simon (PMDB-RS), que se confessa um otimista, aumentava uma oitava as suas restrições já expostas à Folha na semana passada. Apoio no Congresso Base Simon acha que o governo está anunciando demais o que vai fazer, sem qualquer consulta prévia aos partidos e à sociedade. "Desse jeito, a reforma tributária não passa", avisa Simon. Reforma tributária, como se sabe, é um dos três itens essenciais que o governo pretende introduzir na Constituição, ao lado da reforma da Previdência e de uma nova distribuição de tarefas entre União, Estados e municípios. Se depender de José Genoino (PT-SP), o partido seguirá caminho inverso. Ou seja, vai elaborar uma agenda de reformas para contrapor à do governo. No caso da flexibilização dos monopólios estatais, por exemplo, outra menina dos olhos do governo, José Genoino quer que o PT aprove-a sob a condição de que cada concessão ao setor privado seja objeto de um contrato detalhado. Por esse caminho, parece que será mais fácil vencer as resistências de qualquer natureza a esse tipo de proposta. Relações externas Mais dificuldades estão no horizonte externo. Ontem, o presidente do Chile, Eduardo Frei, disse a jornalistas brasileiros com os quais tomou café da manhã que estava preocupado com os efeitos da crise mexicana. Ora, se isso acontece no Chile, tido como o modelo mais acabado de estabilização na América Latina, os temores no Brasil deveriam ser maiores do que gosta de admitir a equipe econômica. Na transmissão de cargo ao novo chanceller Luiz Felipe Lampreia, até entre diplomatas comentava-se o caso de um brasileiro que trabalha em uma financeira norte-americana, que ouviu uma frase definitiva após o caso mexicano: "Venda toda a América Latina", foi a ordem. Motivo: para grande parte dos investidores externos, como o admite o presidente Frei, América Latina é uma coisa só e sua imagem ainda é muito construída, nos Estados Unidos, pelo que se vê do México. Como o que se viu, não nada é bom, os sinais de inquietação estão no ar. Texto Anterior: A noiva e a Presidência Próximo Texto: FHC explica a 'ditadura benigna' das MPs Índice |
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