São Paulo, terça-feira, 3 de janeiro de 1995
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Malan defende ajuste em bancos oficiais

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O novo ministro da Fazenda, Pedro Malan, pretende implementar o programa de ajustes para os bancos públicos que o presidente Fernando Henrique Cardoso, quando ocupou o mesmo cargo (antes de se candidatar à Presidência), deixou inacabado devido a pressões políticas.
Esta disposição foi manifestada ontem, na cerimônia em que Ciro Gomes transmitiou o cargo de ministro da Fazenda a Malan.
O programa, rigoroso, prevê o fechamento de até 500 agências deficitárias de bancos federais e a execução de dívidas em atraso junto às instituições.
Tais medidas estão previstas no PAI (Programa de Ação Imediata), lançado em junho do ano passado por FHC.
"Os princípios do PAI são tão válidos hoje como há um ano e meio", disse ontem Malan, em discurso improvisado na cerimônia de transmissão do cargo de ministro da Fazenda.
Malan prometeu rigor no ajuste de bancos federais, os ligados diretamente a seu controle. "Me envolverei pessoalmente", disse.
As diretrizes do PAI não foram seguidas até hoje por pressões políticas. Aliados políticos de FHC bloquearam o fechamento de agências do Banco do Brasil, principal financiador do setor rural, e da CEF (Caixa Econômica Federal), encarregada de projetos sociais.
No governo Itamar Franco, os presidentes do BB, Alcir Calliari, e da CEF, Danilo de Castro e José Fernando de Almeida, não eram afinados com a equipe econômica –eram indicações políticas do Palácio do Planalto.
Os futuros presidentes das duas instituições, Paulo César Ximenes (BB) e Sérgio Cutolo (CEF), foram indicados por Malan com a missão de promover um cronograma de redução de estrutura e pessoal nos bancos.
Se Malan seguir as determinações do PAI, o BB e a CEF deixarão de concorrer em cidades de pequeno porte.
Nestas localidades, haverá apenas uma agência de um dos dois bancos federais. A concorrência entre BB e CEF ocorre em 1.100 cidades do interior.
As mesmas diretrizes do PAI devem ser seguidas no Banespa e no Banerj, os dois maiores bancos estaduais do país, desde a última sexta-feira sob administração do Banco Central. Os dois bancos não seguiram as recomendações de ajuste feitas pela equipe no ano passado.
"A meta principal do PAI é acabar com o descalabro das contas públicas", disse Malan, para quem as diretrizes do programa devem ser seguidas também nas áreas de privatização, corte de gastos e aumento da arrecadação.
Em entrevista, no início da noite, Malan disse que não haverá no governo "feudos ou satrapias" –como eram chamados, nas idades Média e Antiga, as porções de terra dominadas por um único senhor, ou sátrapa.
Malan fez a declaração ao responder uma pergunta sobre a divisão de trabalho entre ele e o ministro do Planejamento, José Serra.
Segundo Malan, que tem negado divergências com Serra, prometeu uma ação conjunta dos dois Ministérios.
Ao empossar seu secretariado ontem, no início da noite, Malan estava bem-humorado. Disse querer que todos os secretários assinassem o termo de posse de uma só vez, "para que não venham a se arrepender depois".
Malan também provocou risos no auditório lotado do Banco Central ao se referir a seu secretário-executivo, Pedro Parente. "Aqui não vai nenhum sinal de nepotismo, por eu ter nomeado um Pedro e um Parente".
Não houve novos anúncios de nomes para o segundo escalão da Fazenda. Os presidentes do bancos federais, segundo Malan, serão anunciados pelo presidente Fernando Henrique Cardoso nos próximos dias.
Embora não confirmadas oficialmente, as indicações de Paulo César Ximenes, para o Banco do Brasil, e de Sérgio Cutolo para a CEF (Caixa Econômica Federal), já são dadas como certas.
Malan confirmou as cinco linhas principais de ação da área econômica para este ano: ajuste das contas públicas, desindexação gradual da economia, redução dos custos de produção, aperfeiçoamento do regime cambial e do regime monetário. (Gustavo Patú)
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Sobre bancos oficiais na pág. 1-15

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