São Paulo, terça-feira, 3 de janeiro de 1995
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Estudo analisa início da história do cinema

DA REDAÇÃO

"O Primeiro Cinema: Espetáculo, Narração, Domesticação", de Flávia Cesarino Costa, incorpora os conceitos da nova historiografia –surgida no final dos anos 70– sobre os primórdios do cinema.
Ao descrever os dez primeiros anos de sua história, a tese procura mostrar, com exemplos concretos, que não havia nos filmes da época "tanta ingenuidade".
A imagem de um cinema primitivo e desajeitado dá lugar a uma análise que destaca os modos de produção e exibição, composição e comportamento do público e formas de representação dos filmes.
Até o advento da nova historiografia, eram destacados nos filmes da época principalmente elementos narrativos que poderiam indicar o início da formação da linguagem clássica, que se estabeleceria como hegemônica no cinema.
Flávia muda o viés de análise, tratando esses filmes como "autônomos". Destaca a influência que o caráter anárquico dos espetáculos populares de variedades exerceu sobre eles até 1906.
Esses espetáculos encadeavam quadros praticamente autônomos de canto, de malabarismo e apresentação de animais. A comicidade era uma de suas principais marcas.
Muitos filmes adotavam esse espírito e alguns eram realizados a partir do registro dos quadros apresentados nesses espetáculos.
Quanto à linguagem, o trabalho aponta a importância da autonomia do plano se contrapondo às análises que viam o uso do recurso simplesmente como falta de recurso.
Parte da "velha" historiografia aponta o abandono do plano único e o desenvolvimento da montagem como o momento de nascimento da linguagem cinematográfica.
"A autonomia não significa que os filmes fossem primitivos, simplesmente teatrais ou não cinematográficos", diz Flávia.
O primeiro cinema, como o período é definido, seria marcado pelo processo de transformação da técnica artesanal para a industrial.
O trabalho mostra como a substituição das feiras pelos grandes armazéns para exibição de filmes influenciou o modo de produção.
Segundo Flávia, o trabalho procura "revalorizar o período", apontando elementos que indicariam a existência de uma "consciência do meio que estava sendo usado". Para ela, a mudança de olhar sobre a época "não surgiu à toa". Teria sido influenciada pelo surgimento das mídias eletrônicas.
O vídeo e a informática teriam redespertado "o interesse pelo não narrativo, pela brincadeira", abrindo espaço para que os filmes da época ganhassem nova dimensão aos olhos dos historiadores.

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