São Paulo, terça-feira, 3 de janeiro de 1995
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Zedillo prepara novo pacote econômico

ANDRÉ LAHÓZ
ENVIADO ESPECIAL AO MÉXICO

O presidente mexicano, Ernesto Zedillo, marcou para a noite de ontem um pronunciamento no qual detalharia seu programa econômico de emergência para fazer fente à crise resultante da desvalorização do peso. O programa foi anunciado em linhas gerais na última quinta-feira.
No horário de fechamento dessa edição (20h30 de Brasília), ainda não havia terminado uma reunião a portas fechadas, iniciada pela manhã, do novo ministro da Fazenda, Guillermo Ortiz Martinez, com representantes dos empresários e trabalhadores. Zedillo faria seu pronunciamento de acordo com os resultados da reunião.
A reunião debate o novo pacto social proposto por Zedillo na quinta-feira passada. O presidente mexicano quer evitar que a alta de preços causada pela desvalorização (que aumenta o preço dos importados) traga de volta a espiral inflacionária e leve a novas desvalorizações da moeda diante do dólar.
Ou seja, quer chegar a um acordo entre empresários, trabalhadores e governo para segurar os preços. Os líderes dos trabalhadores tentariam obter garantias de emprego e, se possível, aumento salarial. Eles afirmam que os preços estão subindo mas os salários não.
Os líderes empresariais tentariam obter do governo um apoio às empresas que se encontram em dificuldades em consequência da desvalorização.
Várias empresas se endividaram muito em dólar nos últimos anos, pois as taxas de juros nos Estados Unidos eram mais baixas e a valorização do câmbio (que torna o dólar mais barato) ocorrido nos últimos anos "comeu" parte da dívida.
O problema é que, com a desvalorização do peso, essas empresas tiveram um aumento em suas dívidas superior a 40%. Se encontram atualmente em sérias dificuldades financeiras, correndo o risco de quebrar.
É o que mostrou ontem o jornal "El Universal". Estimativas feitas entre 22 empresas mexicanas com ações na bolsa mostram que um câmbio a 4,90 pesos por dólar provoca um aumento da dívida das empresas em 45,6%. As receitas dessas empresas são, em sua maioria, em pesos e não em moeda americana.
A eventual quebra dessas empresas deixaria também o sistema bancário mexicano em uma situação de extrema fragilidade.
Na quinta-feira, Zedillo nada disse sobre uma eventual ajuda às empresas endividadas. O presidente disse apenas querer reduzir o desequilíbrio comercial mexicano (o país importa muito mais do que exporta) e impedir que a desvalorização traga de volta a inflação.
Isso seria possível, segundo o presidente mexicano, por meio de um acordo entre os setores produtivos (debatido na reunião de ontem), ajuste fiscal com redução de gastos públicos e constituição de um fundo com dinheiro vindos dos países ricos (como os EUA), bancos e organismos multilaterais.
O dólar fechou ontem valendo 5 pesos, após uma manhã com muitos rumores sobre o previsto pronunciamento de Zedillo à nação.
O Fundo Monetário Internacional está preparando com o governo mexicano um novo programa de apoio para sustentar o peso e, também, aliviar o pagamento da dívida de curto prazo em Tesobonos, títulos do governo, a maioria em poder de investidores externos. US$ 10 bilhões em Tesobonos devem ser resgatados agora no primeiro trimestre.
O apoio do Fundo é tido como fundamental para abrir linhas de crédito internacional para o país.

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