São Paulo, terça-feira, 3 de janeiro de 1995
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Zé Celso preparou revolução em Portugal

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa e o grupo baiano (Caetano, Gil, Bethânia e Gal) mereceram relatórios mensais na passagem dos anos 60 para os 70. Os agentes referem-se a eles como "epigrafados"', "marginados" ou "elementos".
Grande parte dos textos ainda não foi encontrada. A rubrica Caetano Veloso, por exemplo, traz só dados sobre um homônimo.
Zé Celso foi acompanhado de 1967 a 1975. Era fichado como "ortodoxo". Dos informes localizados sobre ele, o mais impagável figura na pasta "Subversão do Brasil no Exterior"'.
O documento data de 6 de dezembro de 1974 e dá conta das ações do diretor em Portugal. Zé Celso estaria preparando a revolução desde a "terrinha": "O encenador José Celso, em entrevista ao vespertino lisboeta 'Diário Popular', declarou que pretende desenvolver em Trás-os-Montes, com portugueses, brasileiros, e africanos, um trabalho de ação direta para despertar a criação coletiva utilizando temas ligados principalmente ao problema da descolonização, de 'mudança da relação senhor-escravo na África e em Portugal'. Afirmou ainda que em Portugal a liberdade está na rua".
Três informes mostram que Zé Celso e os baianos projetavam para 1969 um especial na TV Globo intitulado "Vida Paixão e Banana do Tropicalismo".
Segundo informação de 7 de fevereiro de 1969, da 4ª Zona Aérea, o programa não foi ao ar por recusa dos patrocinadores: "Alguns pontos foram discutidos e recusados pelos patrocinadores, pelo seu conteúdo agressivo, fora de lugar, num programa que deveria ter sido musical, constando ainda no referido relatório que o cenário era composto por várias faixas, entre as quais os seguintes dizeres: 'O Petróleo É Nosso', 'Reina a Mais Completa Ordem no País' e outras, tendo sido incluído na parte musical números como 'Tropicalismo' (sic), de Caetano, onde incluvive consta no arranjo de algumas notas do hino da Internacional Comunista, como "Guantanemera", canção adotada pelos revolucionários cubanos etc." O ouvido absoluto do agente captou na música "Tropicália" notas que Caetano nunca imaginou.

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