São Paulo, quinta-feira, 5 de janeiro de 1995 |
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BC vai facilitar câmbio a exportador
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
A primeira dessas medidas deve ser um alívio nas regras para a realização de Adiantamentos de Contrato de Câmbio, ACCs, que sofreram forte restrição há dois meses. O ACC, prática do mercado financeiro, funciona assim: o exportador, tendo acertado um negócio, vai a um banco aqui no Brasil e vende antecipadamente os dólares que deve receber lá na frente. Assim, apanha os reais e os aplica no mercado financeiro local, aproveitando as altas taxas de juros internas. Quando realiza efetivamente a exportação, entrega os dólares recebidos ao banco que lhe adiantou os reais. A vantagem está na diferença de juros internos e externos. O que o exportador recebe pelas aplicações em real é muito mais do que paga de juros em dólar. Ou seja o exportador tem um ganho financeiro. Hoje, para fazer um ACC, o exportador paga uma taxa compulsória, sem retorno, de 15% sobre o valor do contrato. E precisa realizar efetivamente a exportação e devolver os dólares em 90 dias. Antes, não havia compulsório e o prazo era de 180 dias, prorrogáveis. No BC, a Folha apurou apenas que as regras atuais serão flexibilizadas. No mercado financeiro, operadores dizem que a modificação mais fácil de fazer é a eliminação (ou redução) do compulsório de 15%. Isso pode ser feito por simples portaria do Banco Central. O alívio nas regras impostas há apenas dois meses deve-se à clara mudança no movimento de capitais. Em outubro, com a vitória de FHC, entre outros motivos, era forte entrada de dólares. Essa excessiva entrada de dólares forçava a desvalorização da moeda americana. O BC era obrigado a lançar reais na economia para comprar os dólares e impedir queda na taxa de câmbio. A situação hoje é diferente. Há dois meses, a saída de dólares para pagamento de importações é maior do que a entrada por conta de exportações. E, com a crise mexicana, investidores estrangeiros têm retirado dólares das Bolsas brasileiras. Nesses dois meses houve saída de cerca de US$ 1 bilhão. Assim, o BC acredita que pode de novo facilitar a vida dos exportadores, tornando mais rentável o negócio dos ACCs. Com essa e outras eventuais medidas, o BC sinaliza que não deseja excesso nem no superávit, nem no déficit das contas externas. Por outro lado, o BC estará sinalizando que não pretende mexer na cotação do dólar. Isso porque o negócio dos ACCs só faz sentido se não houver valorização da moeda americana. Digamos que um exportador tenha para receber US$ 100 mil em 5 de abril. Hoje, ele recebe por isso R$ 85 mil. Aplica no mercado financeiro local, a taxas anuais de 49% e, ao final dos três meses, receberá cerca de R$ 94 mil. Mantida a cotação do dólar, esses R$ 94 mil equivalerão a US$ 110 mil. Como ele deve entregar ao banco os US$ 100 mil originais, mais uma taxa de juros internacional, que é de 10% ao ano, terá um lucro líquido em torno de US$ 7,5 mil. Se a cotação do dólar subisse, nesse período, para R$ 0,95, por exemplo, desapareceria o ganho. Tomando medidas para dar mais rentabilidade financeira ao negócio de exportação, o BC indica que não pretende fazer subir o dólar. Próximo Texto: Arida é contra valorizar dólar Índice |
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