São Paulo, sexta-feira, 6 de janeiro de 1995
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Serra tenta interferir em pasta de Dorothéa

LUCAS FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os ministros do Planejamento, José Serra, 52, e da Indústria, Comércio e Turismo, Dorothéa Werneck, 46, começaram a primeira semana de governo se desentendendo. O motivo é o controle da política de comércio exterior.
Dorothéa não gostou de saber que Serra estava articulando a indicação do nome do futuro presidente do Conselho de Comércio Exterior, órgão que será criado para coordenar a política do setor.
A Folha apurou que os dois ministros chegaram a discutir ao telefone anteontem. Dorothéa deixou claro a Serra que a política de comércio exterior é atribuição do ministério dela.
O Conselho de Comércio Exterior será formado por representantes dos ministérios da Indústria, Comércio e Turismo, Fazenda, Planejamento e Relações Exteriores. Os ministérios responsáveis pelo setor, no entanto, são a Fazenda e o Ministério da Inústria, Comércio e Turismo.
O interesse de Serra no setor de Comércio Exterior foi um dos motivos da divergência entre ele a equipe econômica na época do lançamento do Plano Real.
Serra defendia a tese de que a supervalorização do real frente ao dólar poderia prejudicar os exportadores, já que as importações ficariam mais atraentes, e as exportações menos lucrativas.
As teses do ministro ganharam força após a crise do México, que viu o saldo da balança comercial (diferença entre a exportação e a importação) atingir um défict de US$ 25 bilhões no ano passado por causa da supervalorização da moeda local, o peso.
No governo Itamar, por várias vezes, o então ministro Élcio Álvares (Indústria, Comércio e Turismo) discutiu com o também ministro Rubens Ricupero (Fazenda) pelo controle da área.
A Fazenda frequentemente baixava medidas do Plano Real que feriam as políticas de médio e longo prazo promovidas pelo ministério de Álvares.
Na MP (medida provisória) sobre reforma administrativa baixada por FHC no dia 1º de janeiro, continua havendo a sobreposição de poderes entre os dois ministérios.
Pela MP, entre as atribuições do MICT, está o item "comércio exterior", e, entre as da Fazenda, está a "fiscalização e controle do comércio exterior".
FHC esperava controlar a histórica disputa neste setor criando o conselho. O presidente chegou a escolher o embaixador Sérgio Amaral para presidir o órgão, mas ele virou porta-voz de FHC.
Diante da falta do nome do presidente do conselho, FHC adiou a criação do órgão. Na reunião ministerial de hoje, um dos temas deverá ser a formação do conselho.

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