São Paulo, sexta-feira, 6 de janeiro de 1995
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Preços agrícolas opõem Malan a Andrade Vieira

CARI RODRIGUES
LILIANA LAVORATTI

CARI RODRIGUES; LILIANA LAVORATTI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O reajuste dos preços mínimos da próxima safra, cuja colheita se inicia em fevereiro, abriu uma área de conflito entre o ministro da Fazenda, Pedro Malan, 52, e o ministro da Agricultura, José Eduardo Andrade Vieira, 57. A bancada ruralista no Congresso pretende jogar mais lenha nesse confronto.
Os técnicos do Ministério da Agricultura defendem o reajuste dos preços mínimos, e a equipe econômica é contrária à proposta.
Para a Fazenda, essa medida é inflacionária e atrapalha o Real.
Os preços mínimos dos produtos agrícolas estão congelados desde a implantação do Plano Real (1º de julho de 1994), enquanto os financiamentos são reajustados mensalmente pela pela TR (Taxa Referencial).
"A informação que temos é que o Ministério da Fazenda não quer reajustar os preços porque o aumento teria reflexos no índice da inflação", disse ontem à Folha o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP), um dos líderes da bancada ruralista na Câmara.
O pleito pelo reajuste junta Marquezelli e Andrade Vieira, que vinha sendo criticado pelo deputado por ser banqueiro (ele é um dos sócios do Banco Bamerindus) e não ter intimidade com a área.
Até o fim janeiro, a Fazenda terá de sinalizar com uma política de preços agrícolas, defende Marquezelli. A bancada ruralista ameaça obstruir a votação de projetos importantes na Câmara caso o governo não negocie com o setor.
A Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados calcula que o prejuízo médio real com os preços congelados, descontado o índice da inflação, é de 10,84% de 1º de julho a 1º de novembro de 1994: média de 2,16% ao mês.
A previsão do deputado Valdir Colatto (PMDB-SC), responsável pela política de preços mínimos na Comissão de Agricultura, é de que, em 12 meses de Real, o acumulado da TR chegará a 60%.
"Vamos cobrar caro se o governo não reajustar os preços", ameaça Marquezelli. Em 1994, a bancada ruralista boicotou a votação da medida provisória do Real.
As entidades representativas dos agricultores também começam a se mobilizar. O coordenador do Departamento Técnico da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), Amílcar Gramacho, diz que o governo tem um compromisso assumido de reajustar os preços mínimos.
Gramacho se refere ao decreto 1.274, de outubro de 1994. No artigo quarto, o documento diz que "os preços mínimos e os valores de financiamento poderão ser revistos de modo a garantir o equílibrio econômico-financeiro dos contratos".

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