São Paulo, sexta-feira, 6 de janeiro de 1995
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Covas acusa Fleury de dar 'calote' de R$ 1,5 bi

CARLOS MAGNO DE NARDI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador Mário Covas (PSDB), 64, acusou ontem seu antecessor, Luiz Antonio Fleury Filho (PMDB), de deixar uma dívida de R$ 1,5 bilhão referente a pagamentos de despesas do dia-a-dia (custeio) do governo estadual.
A dívida teria sido formada pelo não pagamento de fornecedores de combustível, alimentos e leite, indenizações trabalhistas, desapropriações e sentenças judiciais.
Segundo Covas, esses pagamentos deixaram de ser feitos em setembro, outubro, novembro e dezembro do ano passado. Entre os fornecedores está a Petrobrás, que repassa combustível para os veículos do governo do Estado.
O atual governador afirma que a arrecadação do Estado em janeiro, de R$ 1,2 bilhão (entre ICMS e IPVA), não cobre as despesas, "sem contar o pagamento do funcionalismo e o custeio de janeiro".
A afirmação é uma espécie de resposta a seu antecessor que, anteontem, divulgou através de sua assessoria que Covas não pagará os salários do funcionalismo este mês "só se não quiser".
Covas e Fleury têm divergido sobre a situação das finanças do Estado. Enquanto o tucano se esforça para demonstrar o "caos financeiro" de São Paulo, Fleury nega e diz que as finanças estão em situação administrável.
Perguntado se pretende responsabilizar Fleury na Justiça pela falta de pagamento, Covas disse que seu governo pretende aplicar a lei.
"Não esperem de mim afirmações no sentido de que eu vou processar o ex-governador", disse.
Segundo o tucano, "é paradoxal receber um governo que tem que arcar com custeio passado. Isso não é dívida com empreiteiras, com obras".
O governo do Estado deve cerca de R$ 3 bilhões para empreiteiras. Na opinião de Covas, esse número referenda o saneamento desencadeado em seu governo.
Covas critica também os aumentos salariais concedidos no final do ano passado. Segundo ele, o ICMS de abril não vai cobrir a folha de pagamentos. "Projeções mostram que, em abril, a folha de pagamento é igual à arrecadação".
O gasto com a folha de pagamento é hoje de cerca de R$ 600 milhões e, nos próximos três meses, deve atingir R$ 800 milhões.
Dentro do que chama de medidas de saneamento, Covas não descarta a possibilidade de demitir funcionários do próprio quadro do governo estadual. "Antes de falar sobre isso, temos que esperar o censo que estamos realizando". O levantamento deve estar concluído em 75 dias.
O ex-governador Fleury está em Portugal. A Folha tentou entrar em contato com seus assessores para repercutir as declarações de Covas. Eles não foram localizados até o fechamento desta edição.

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