São Paulo, sexta-feira, 6 de janeiro de 1995
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A destruição de Higienópolis

LUIZ IZRAEL FEBROT

LUIZ FEBROT
Concomitantemente com planos de venda de patrimônio público (Teatro Municipal, autódromo de Interlagos etc.), a Prefeitura de São Paulo colocou na ordem do dia a construção de um shopping center em plena avenida Higienópolis, que significará a destruição do caráter residencial do bairro.
Diferentemente da venda do Pacaembu, a iniciativa da construção do shopping não seria da prefeitura, mas o seu comportamento no Compresp (preservação do patrimônio municipal) demonstra haver prévio entendimento entre a prefeitura e o grupo Malzone, interessado na construção.
O projeto prevê de 150 a 200 lojas, quatro cinemas, restaurantes, o que demonstra que mesmo sendo menor do que os atuais shoppings de São Paulo, ainda assim a sua implantação em Higienópolis gerará extraordinário aumento do fluxo de trânsito, diurno e noturno e, pelo princípio da sinergia, atrairá novas lojas para as imediações.
Higienópolis é um bairro majoritariamente de prédios residenciais, com algum comércio e serviços, a maioria dos quais servindo aos habitantes do bairro. Está hoje no limiar entre bairro residencial e o perigo potencial de transformar-se num bairro comercial – a implantação de um shopping ultrapassaria o limite. É, pois, legítimo o interesse dos moradores do bairro em preservar seu caráter residencial.
Numa cidade ordenada urbanisticamente, o shopping é implantado na periferia –é o que está acontecendo nos últimos 15 anos em São Paulo (Carrefour, Aricanduva, Morumbi, Plaza Sul)– sendo de lembrar que o "saber fazer" norte-americano implantou em São Paulo, já nos anos 50, o Makro na periferia.
Em Campinas os shoppings também estão na periferia. As três shoppings paulistanos implantados em bairros residenciais constituem exceção à regra e uma história de exceções.
O shopping Iguatemi, o primeiro, iniciativa do notável pioneiro capitalista Alfredo Matias, foi implantado estrategicamente perto dos bairros ricos, mas igualmente no fim da cidade, junto à margem do rio Pinheiros. A localização central do Iguatemi mostra hoje o poder de atração de um shopping.
O "West Plaza" e o "Paulista", estão localizados em edifícios de duas antigas "lojas de departamentos" da Sears (Praça Oswaldo Cruz e Perdizes) construídos no começo dos anos 50 e resultaram na desinformação urbanística que permitiu que, em pleno crescimento vertiginoso (população 1940 = 1.337.64; 1950 = 2.189.96), se implantassem edifícios desse vulto, gerador de pedestres e automóveis.
Número crescente de pessoas têm convicção de que nem tudo deve ser surbordinado aos negócios e aos lucros; de que a qualidade de vida é o mais importante capital do ser humano.

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