São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Universidade-empresa -a parceria necessária

JOSÉ FERNANDO PEREZ

Universidade-empresa –a parceria necessária
O modelo importador de tecnologia não mais subsistirá: ninguém vende tecnologia a competidor
Os últimos 30 anos testemunharam um impressionante desenvolvimento científico do país. Atingimos padrões internacionais de competência em várias áreas do conhecimento. Esse quadro, porém, não pode e nem deve contribuir para um clima de injustificado otimismo. Muito pelo contrário, nossa comunidade científica ainda é muito pequena e a competência obtida distribui-se de forma excessivamente heterogênea pelas áreas do conhecimento, instituições e regiões do país. O patamar atingido nos situa ainda bem abaixo dos países desenvolvidos.
Particularmente insatisfatória é a situação na área de pesquisa tecnológica. Ela praticamente inexiste no ambiente empresarial e as poucas exceções concentram-se em companhias estatais. Uma outra face da mesma moeda é o baixíssimo nível de transferência de conhecimento do ambiente acadêmico para o setor empresarial. Algumas das causas desse problema podem ser facilmente identificadas.
A economia fechada, resultante do programa de substituição de importações, prescindia de tecnologia localmente gerada. Tecnologia importada ou precariamente adaptada era suficiente para garantir o sucesso dos empreendimentos.
Por outro lado, a visão de que o Estado deveria ser a única fonte de recursos para atividades de pesquisa na universidade foi, até passado recente, um dogma compartilhado por ampla fração da comunidade acadêmica.
Os projetos de pesquisa aplicada eram, em sua maioria, desenvolvidos sem parceria com empresas que pudessem ter interesse em absorver seus resultados. Não redundavam em transferência de conhecimento, não se diferenciando, portanto, de projetos de pesquisa básica.
Esses pressupostos começam a ser modificados. O país tende para um modelo de economia aberta. Para competir, até mesmo dentro do país, a indústria nacional deverá atingir padrões internacionais de qualidade e de produtividade.
Como consequência, o modelo importador de tecnologia não mais subsistirá: ninguém venderá tecnologia a um potencial competidor. Inovação tecnológica estará na ordem do dia.
As indústrias terão necessidade de realizar pesquisa tecnológica ou procurar parceiros para esse fim. Seus parceiros naturais são os institutos de pesquisa e as universidades. Portanto, a cooperação responderá a uma exigência e não a uma opção.
Do lado acadêmico, desenvolve-se também uma consciência crescente de que as instituições de pesquisa podem e devem contribuir diretamente para o desenvolvimento tecnológico e econômico do país. Se é fato que a motivação do cientista é o desafio e o prazer da participação na aventura do conhecimento e que a sociedade deva perceber o valor intrínseco dessa atividade, é desejável que ela também perceba o impacto potencial dessa atividade sobre sua vida.
Além disso, pesquisa aplicada e parceria com empresas começam a ser percebidas como fatores que promovem a qualidade da pesquisa básica. É estimulante e sadio para o ambiente de pesquisa básica a percepção de uma cadeia do conhecimento que tem em sua outra extremidade a transferência de conhecimento para a sociedade.
É neste novo contexto que se dá o lançamento de um novo programa da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), cujo propósito é apoiar a parceria entre instituições de pesquisa e empresas em projetos destinados a gerar inovações tecnológicas. Esse programa tem enunciado conceitual muito simples, baseado em três princípios básicos.
Só serão apoiados projetos a serem desenvolvidos em parceria por instituições de pesquisa e empresas. Os recursos da Fapesp serão concedidos a fundo perdido para a instituição de pesquisa. A empresa parceira deverá aportar contrapartida real, sob a forma de recursos novos, que, investidos no projeto, representarão testemunho decisivo de sua viabilidade tecnológica e comercial. Essa contrapartida será determinada em função de duas variáveis: o risco tecnológico e o risco de comercialização envolvidos.
O programa deverá também estimular as empresas a uma utilização mais intensa dos diversos incentivos fiscais que lhes têm sido oferecidos para investimento em atividades de pesquisa. Esses benefícios, eventualmente associados a financiamentos através de agências como a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), deverão viabilizar a contrapartida exigida.
Lançado em caráter experimental, com recursos para o primeiro ano fixados em R$ 5 milhões, o programa não pretende suprir toda a necessidade de financiamento da pesquisa aplicada e tecnológica do Estado. Ele responde à necessidade de estimular uma interação e desencadear um processo que deverá se tornar autônomo.
Com a palavra os parceiros.

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