São Paulo, sábado, 7 de janeiro de 1995 |
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Presidente fica isolado no Planalto
CLÓVIS ROSSI
Saiu do encontro impressionado com o fato de que, nesses 150 minutos, em momento algum a conversa foi interrompida por um chamado qualquer para o presidente, pessoal ou telefonicamente. Esse detalhe revela, com clareza, a solidão e o isolamento em que auto-imergiu FHC na sua primeira semana de gestão. Governante algum consegue passar tanto tempo conversando com alguém sem ser interrompido. O isolamento teve consequências negativas para a imagem do governo. As principais foram as duas derrotas nas tentativas de votação, pelo Senado, do nome de Pérsio Arida para o Banco Central. A Folha apurou que o líder de um dos mais importantes partidos governistas avalia que três ou quatro telefonemas de FHC teriam resolvido a questão. É uma alusão ao fato de que o silêncio do presidente permitiu que um pequeno grupo de senadores bloqueasse a aprovação de Arida, condicionando-a à votação pela Câmara e posterior sanção presidencial do projeto que anistia o senador Humberto Lucena (PMDB-PB), presidente da Casa. A reunião ministerial ontem iniciada, embora não convocada especificamente com o objetivo de acabar com a solidão, pode funcionar como tal. Mas merece avaliações divergentes entre os governistas. No PFL, a avaliação é a de que a reunião seria longa demais para o mero objetivo de passar orientação para a equipe. Mas, no PSDB, sempre de acordo com o que foi apurado pela Folha, considera-se importante o encontro porque permitirá que seja combinado o novo mecanismo de funcionamento da equipe. Novo no sentido de que se vai governar por tarefas e cada tarefa pode exigir um cruzamento de ações de diferentes pastas. Educação à distância, por exemplo, meta do Ministério da Educação terá que ser operada em conjunto com Roberto Muylaert, 59, secretário das Comunicações. Ainda assim, fica evidente o dano do isolamento: esse estilo de administrar, chamado matricial, já estava definido desde a campanha eleitoral mas só agora está sendo explicitado aos ministros. O isolamento foi, também, um dos responsáveis pelas trombadas da semana na área política. Foi o caso da reunião do Conselho Político, para a qual o PTB, um dos três partidos da coligação que elegeu FHC, não foi convidado, irritando seus parlamentares. A confusão é tamanha que, se o PTB não compareceu, outro coligado, o PFL, apareceu em dobro. Seu presidente, Jorge Bornhausen, estava presente, assim como o líder na Câmara, Luís Eduardo Magalhães (BA), quando o Conselho é formado só por presidentes. A desarticulação estende-se para o futuro imediato. O governo convocou para o dia 26 reunião ampla com todos os parlamentares dos partidos governistas, à qual devem comparecer alguns ministros. Mas, tanto no PSDB como no PFL, o projeto está sendo considerado inócuo. Com mais de 400 pessoas presentes, é altamente improvável que ela seja produtiva. Os dois partidos querem reuniões por bancadas. O PFL faria a sua, o PSDB a dele e assim por diante, sempre com ministros. É tamanho o isolamento que, além do vice-presidente Marco Maciel, o secretário particular de FHC, Francisco Graziano, cuja função é basicamente burocrática, passou a fazer contatos políticos. Texto Anterior: Maciel se diz tranquilo Próximo Texto: Tucano evita caso Lucena Índice |
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