São Paulo, sábado, 7 de janeiro de 1995
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Morto um dos maiores traficantes do Rio

RONALDO SOARES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O traficante Nem Maluco foi encontrado morto ontem de manhã em uma esquina da favela do morro do Adeus, em Ramos (zona norte do Rio de Janeiro).
O traficante foi morto com pelo menos três tiros. Havia vários arranhões no corpo de Nem Maluco, que estava com uma corda de náilon amarrada no pescoço. Ele teria sido arrastado pelas ruas antes de ser deixado em uma esquina.
Policiais da 21ª Delegacia de Polícia (DP) acreditam que Nem Maluco morreu num tiroteio com a quadrilha do traficante Marcinho, do morro do Alemão, em Ramos. O confronto ocorreu no início da madrugada de ontem e durou pelo menos três horas.
O líder do tráfico de drogas na favela do morro do Adeus, Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, um dos traficantes mais procurados pela polícia do Rio, compareceu ao local para se certificar da morte de Nem, seu principal inimigo.
Uê foi visto pela reportagem da Folha quando parou com um Kadett vermelho na esquina das ruas Dr. Nogushi e Viúva Mendonça, onde o corpo de Nem Maluco foi deixado. Ele permaneceu no carro enquanto seu motorista fez o reconhecimento do cadáver.
O delegado titular da 21ª DP, Mário Azevedo, não descarta a possibilidade de Nem Maluco ter sido eliminado por integrantes do Comando Vermelho, facção do crime organizado a que pertencia.
"Ele estava causando problemas para o morro porque vinha promovendo seguidas chacinas nas redondezas e chamando muito a atenção", afirmou Azevedo.
Nem Maluco era fichado na Divisão Anti-Sequestro como Aldair Cabral Mangano –embora outros setores da polícia o identificassem como Márcio Santos.
Ele controlava o comércio de drogas nas favelas Quatro Bicas, Vila Cruzeiro, Nova Brasília e Caixa D'Água, na Penha.
Segundo Azevedo, os crimes ligados ao narcotráfico são quase sempre "insolúveis e envoltos num ritual de sadismo".
"A investigação é complexa. Os inquéritos que estávamos apurando sobre crimes atribuídos ao Nem Maluco, por exemplo, prescrevem agora, com a morte do suposto autor", afirmou.
O delegado acredita que a única maneira de a polícia combater as quadrilhas de traficantes que agem no Rio é através de uma "operação de guerra".
"Só podemos enfrentar os narcotraficantes se entrarmos numa guerrilha para exterminá-los. Eles só entendem essa linguagem, não há como recuperá-los. Já se acostumaram a ganhar dinheiro fácil."

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