São Paulo, sábado, 7 de janeiro de 1995
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Morre líder comunista sul-africano

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O dirigente comunista Joe Slovo, ministro da Habitação da África do Sul, morreu de câncer na medula óssea aos 68 anos ontem em sua casa em Johannesburgo.
Slovo, um dos mais conhecidos veteranos do combate ao regime de segregação racial (apartheid), foi o primeiro branco a integrar a Comissão Executiva Nacional do CNA (Congresso Nacional Africano), partido liderado pelo presidente Nelson Mandela.
A morte foi anunciada por Mandela. "Slovo dedicou sua vida à justiça, à democracia e à liberdade em nosso país", disse o presidente do amigo e aliado de muitos anos.
"Eu o visitei ainda ontem à noite e, apesar de ele estar sob tremenda tensão, todos nós ganhamos confiança pela maneira calma e valente como ele se comportava. Apesar da doença, ele continuou a trabalhar literalmente até o último dia", disse Mandela.
Joe Slovo nasceu em 1926 em Obelai, na Lituânia. Sua família migrou para a África do Sul quando ele tinha 9 anos para fugir ao anti-semitismo.
Em 1935, aos 16 anos, Slovo entrou para o Partido Comunista Sul-Africano (PCSA). Ele conheceu Nelson Mandela quando ambos estudavam direito na Universidade de Witwatersrand.
"Ele era terrivelmente anticomunista. Nós passávamos horas em duras discussões do lado de fora da biblioteca", disse Slovo numa entrevista em 1993.
Em 1954, o governo do Partido Nacional, que havia implantado o apartheid em 1948, decretou a Lei para a Supressão do Comunismo. Slovo foi proibido de ir a reuniões públicas e a imprensa não podia mais citar seu nome. Foi preso duas vezes, em 1956 e em 1960.
Em 1961, tornou-se um dos primeiros integrantes do braço armado do CNA, a organização guerrilheira Umkhonto we Sizwe ("lança da nação"), que Mandela acabava de criar.
Ele estava fora do país, numa missão secreta, quando a polícia invadiu a sede da Umkhonto we Sizwe, em 1963. Passou os 27 anos seguintes no exílio, até o então presidente Frederik de Klerk abolir o regime de segregação racial, libertar Mandela e legalizar o CNA e o PCSA, em 1990.
Nesse período, Slovo tornou-se chefe do Estado-Maior da guerrilha e secretário-geral do PCSA. Para o regime racista, ele era o "inimigo público número um".
Sua primeira mulher, Ruth First, foi morta com uma carta-bomba enviada pelo serviço secreto sul-africano em 1982, quando o casal vivia em Moçambique. "Você nunca esquece e na verdade nunca perdoa. A punição mais efetiva para aqueles que a mataram é forçá-los a viver numa África do Sul democrática", disse Slovo.

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